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George e Vladimir
VLADIMIR [Putin] e George
[W. Bush] -parece que é
assim que eles se tratam
agora- não resolveram as diferenças entre seus países na cúpula do G8, mas conseguiram
moderar o tom da retórica que
vinha opondo Rússia e EUA.
Dias atrás, o mandatário russo
havia ameaçado assestar suas armas nucleares contra a Europa.
O líder americano, por seu turno,
havia dito que a democracia russa descarrilara -resposta de
bom tamanho para quem havia
acusado Washington de produzir "horror, tortura, sem-tetos e
Guantánamo". É um avanço
quando se considera que, semanas antes, Putin comparara os
EUA à Alemanha nazista.
Apesar de as declarações reviverem os piores momentos da
Guerra Fria, Bush e Putin seguem tratando-se pelo prenome
e trocando visitas e fórmulas de
cortesia. Ambos sabem que parte
da oratória do presidente russo
tem como alvo o público doméstico. Em dezembro haverá eleições para a Duma (Parlamento
russo) e, em março, ocorrerá o
pleito presidencial. Putin está
impedido de concorrer a um terceiro mandato, mas planeja fazer
seu sucessor. Atacar o Ocidente é
algo que normalmente ajuda.
Daí não segue que tudo seja pirotecnia eleitoral. Além da questão dos mísseis, há importantes
diferenças entre os países. O problema de Kosovo (região sérvia
que a ONU poderá emancipar) é
outro que fala alto ao pan-eslavismo. O governo russo também
se considera mal recompensado
pelo apoio dado os EUA após o 11
de Setembro, oferecendo bases e
inteligência para derrubar o Taliban no Afeganistão.
Ancorada na recuperação econômica movida a petróleo, a
Rússia quer voltar a atuar como a
potência militar que ainda é. Não
se sujeita ao papel de coadjuvante do Ocidente. Descontados
exageros retóricos, não deixa de
ser boa notícia para um mundo
que se queixava, com razão, do
unilateralismo americano.
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