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CARLOS HEITOR CONY
Casos de polícia
RIO DE JANEIRO - Mil vezes
anunciada e mil e uma vezes adiada,
a reforma política parece que vai
mesmo entrar em discussão. O momento que atravessamos talvez não
seja o mais propício para cavar fundo no problema, a legislatura passada terminou engolfada em escândalos e a atual começa no mesmo ritmo. Mas a situação lamentável a
que chegamos tem como causa, justamente, a estrutura dos atuais partidos e, sobretudo, o mar de lama
que envolve as doações para os diversos candidatos: presidente da
República, governadores, prefeitos
e parlamentares.
Enquanto não se encontrar a forma decente e controlável para os
gastos dos pretendentes aos cargos
públicos, teremos a suspeita -e
mais do que a suspeita, a certeza-
de que rola dinheiro grosso e sujo
para alimentar o espetáculo eleitoral.
Poderia citar exemplos antigos e
recentes de nossa política doméstica, mas a vulnerabilidade da democracia representativa é universal e
antiga. Outro dia, vi um filme na TV
sobre Howard Hughes, um excêntrico que se meteu em cinema e
aviação. Dono da TWA, sofria pressão da Pan American para desistir
de suas linhas internacionais em favor da concorrente.
Uma comissão do Senado convocou-o para comparecer a uma espécie de CPI. O senador presidente
apertou-o com truculência, Howard Hughes, que era excêntrico
mesmo, retirou-se na marra, mas
antes acusou o senador de ter recebido US$ 20 mil da Pan Am durante
a campanha eleitoral. Vinte mil dólares naquele tempo era dinheiro.
Cito um exemplo distante para
não citar os Valérios e Zuleidos da
vida. Eles existem e existirão enquanto uma reforma política não
acabar com a pulverização partidária e com os gastos das campanhas
que transformam cada eleição em
potenciais casos de polícia.
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