São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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A crise gaúcha

FINANÇAS deterioradas, dificuldades na base parlamentar, um vice que conspira e um escândalo de corrupção que atinge partidos aliados e figuras próximas ao núcleo do governo. A combinação desses fatores no Rio Grande do Sul lança a gestão da tucana Yeda Crusius numa crise aguda, completado apenas um ano e meio de mandato.
Em novembro, a Polícia Federal desbaratou um esquema de pagamento de propinas e enriquecimento ilícito no Detran gaúcho. De acordo com a investigação, uma quadrilha instalada na autarquia desviou R$ 44 milhões de 2003 a 2007 -durante todo o governo de Germano Rigotto (PMDB) e no primeiro ano da administração do PSDB.
No fim de maio, a Justiça aceitou denúncia da Procuradoria contra 40 pessoas, sob acusação de participação no esquema. Tornaram-se réus dois ex-presidentes do Detran, filiados ao governista PP, que manteve o controle político do órgão na passagem da gestão Rigotto para a de Yeda Crusius. Também tornou-se réu, sob a acusação de beneficiar-se dos desvios, um empresário filiado ao PSDB que participou da campanha em 2006.
A crise agravou-se na sexta, quando o vice-governador, Paulo Feijó (DEM), que se tornou inimigo político de Yeda Crusius, divulgou uma conversa gravada com o então chefe da Casa Civil da governadora, Cézar Busatto. Sem saber da gravação, Busatto admitia que o Detran e também o banco estatal gaúcho, o Banrisul, eram usados pelos partidos que os controlam, o PP e o PMDB, para o financiamento de campanhas eleitorais.
A divulgação da fita provocou um início de terremoto na base parlamentar da gestão Yeda Crusius na Assembléia -que já demonstrara sua fragilidade quando derrotou, logo no início do governo, o projeto da governadora tucana de aumentar impostos, como forma de enfrentar a debilidade financeira do Estado.
A demissão de Busatto e de outros dois assessores da governadora, citados em grampos da PF, aplacou os ânimos na base governista. Mas todos os fatores de instabilidade continuam ativos, a começar pela dependência crescente da governadora de um sistema de apoio político caracterizado pelo patrimonialismo.


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