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CLÓVIS ROSSI
Contadores de histórias. E só
SÃO PAULO - Lamento ter que
saudar a incorporação de Marina
Silva à equipe de colunistas desta
Folha com uma discordância ainda
que apenas parcial. Diz a ex-ministra: "O Estado cresceu, mas não
amadureceu".
O problema é bem mais grave. O
Estado cresceu, mas tornou-se impotente. Duvida? Eis o que diz Monique Canto-Sperber, intelectual
francesa em "Le libéralisme et la
gauche":
"A evolução da realidade econômica, com a financeirização da economia, a autonomização dos mercados financeiros, a transformação
do capitalismo industrial em capitalismo patrimonial, a agudização
da concorrência mundial e a hegemonia da economia da informação
e do conhecimento condenam à impotência os poderes públicos".
Continua duvidando? Voltemos
então à bela entrevista que Sérgio
Dávila fez com o sociólogo Immanuel Wallerstein, no trecho em que
ele diz: "Não acho que as ações do
presidente dos EUA nesse momento histórico importem muito para a
economia mundial. Essa já tem
uma dinâmica própria, que passa ao
largo da Casa Branca". Se passa ao
largo da Casa Branca, passa muito
mais ao largo de qualquer outra casa de governo do planeta.
Restou aos políticos o papel de
"contadores de histórias", diz o
também francês Christian Salmon,
para quem contar histórias é "a nova arma de distração em massa" dos
políticos, segundo afirmou em entrevista para a "Foreign Policy",
edição espanhola.
Trecho que me parece essencial:
"Quando um político se convence
de que não tem poder de influir na
história, só lhe resta dedicar-se a relatá-la. (...) Se a política se torna cada vez mais um espetáculo, um cenário ou uma narração, é porque os
políticos não têm nada de transcendente a contar".
Olhe ao redor, ouça os sons da política brasileira e decida se Salmon
está certo ou errado.
crossi@uol.com.br
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