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MARCOS NOBRE
Obama sem clichês
HÁ UM ANO muito pouca
gente apostava na indicação de Barack Obama como
candidato democrata à Presidência
dos EUA. Já era possível perceber
um movimento de entusiasmo na
rede e em conversas informais.
Mas alcançar a indicação à candidatura à Vice-Presidência já parecia muito. Hillary Clinton parecia
imbatível.
Também ao contrário do que se
esperava, Obama não fez uma campanha à esquerda de Hillary Clinton. Entre os pré-candidatos com
chances, esse espaço foi ocupado
por John Edwards. Obama moveu-se para o centro e procurou não se
deixar rotular.
A estratégia de se esquivar de rótulos foi o grande trunfo de Obama.
Não foi por outra razão que, ao se
ver em desvantagem, Hillary Clinton foi obrigada a se rotular a si
mesma: buscou ser a representante de mulheres, hispânicos e operários brancos. E perdeu.
Só que a estratégia de Obama significou também que ele não podia
falar muita coisa porque isso abria
espaço para rotulações. Isso pode
ser bom para um candidato, mas é
péssimo para o debate público.
Foi a persistência de Hillary
Clinton que obrigou a candidatura
de Obama a ganhar conteúdo e
consistência. O programa detalhado de Hillary Clinton obrigou Obama a se comprometer com posições mais concretas. No geral, Obama se limitou a alterar alguns números e prazos das propostas de
sua adversária.
E isso em um contexto em que
Hillary Clinton foi alvo de uma das
mais brutais campanhas pela desistência da candidatura de que se
tem notícia. Durante mais de três
meses, suportou uma pressão que
poucos candidatos agüentariam.
Foi chamada pela colunista do
"New York Times" Maureen Dowd
de "Terminator" (do filme "Exterminador do Futuro") e de "Hillzilla" (mistura do seu nome com o
monstrengo "Godzilla").
E, no entanto, sem Hillary Clinton não haveria Obama. Pouco importam as características pessoais
da candidata e os mesquinhos apelidos que recebeu por causa disso.
Pouco importa a cegueira de quem
exigia sua desistência. No limite,
importam pouco também os lances
infelizes em que atacou Obama de
maneira baixa. O que importa é que
Hillary Clinton reuniu uma equipe
de assessores e formuladores como
poucas vezes se viu. E, ao fazer isso,
elevou o nível do debate político e
acabou por se tornar um sólido
trampolim para o salto do próprio
Obama.
É por essa disputa que a atual
campanha presidencial nos EUA
será lembrada. Porque as perspectivas para o debate eleitoral são as
piores possíveis. Afinal, do outro
lado estará ninguém menos do que
John McCain. Não vai ser bonito
de ver.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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