São Paulo, terça-feira, 10 de junho de 2008

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MARCOS NOBRE

Obama sem clichês

HÁ UM ANO muito pouca gente apostava na indicação de Barack Obama como candidato democrata à Presidência dos EUA. Já era possível perceber um movimento de entusiasmo na rede e em conversas informais. Mas alcançar a indicação à candidatura à Vice-Presidência já parecia muito. Hillary Clinton parecia imbatível.
Também ao contrário do que se esperava, Obama não fez uma campanha à esquerda de Hillary Clinton. Entre os pré-candidatos com chances, esse espaço foi ocupado por John Edwards. Obama moveu-se para o centro e procurou não se deixar rotular.
A estratégia de se esquivar de rótulos foi o grande trunfo de Obama. Não foi por outra razão que, ao se ver em desvantagem, Hillary Clinton foi obrigada a se rotular a si mesma: buscou ser a representante de mulheres, hispânicos e operários brancos. E perdeu.
Só que a estratégia de Obama significou também que ele não podia falar muita coisa porque isso abria espaço para rotulações. Isso pode ser bom para um candidato, mas é péssimo para o debate público.
Foi a persistência de Hillary Clinton que obrigou a candidatura de Obama a ganhar conteúdo e consistência. O programa detalhado de Hillary Clinton obrigou Obama a se comprometer com posições mais concretas. No geral, Obama se limitou a alterar alguns números e prazos das propostas de sua adversária.
E isso em um contexto em que Hillary Clinton foi alvo de uma das mais brutais campanhas pela desistência da candidatura de que se tem notícia. Durante mais de três meses, suportou uma pressão que poucos candidatos agüentariam.
Foi chamada pela colunista do "New York Times" Maureen Dowd de "Terminator" (do filme "Exterminador do Futuro") e de "Hillzilla" (mistura do seu nome com o monstrengo "Godzilla").
E, no entanto, sem Hillary Clinton não haveria Obama. Pouco importam as características pessoais da candidata e os mesquinhos apelidos que recebeu por causa disso.
Pouco importa a cegueira de quem exigia sua desistência. No limite, importam pouco também os lances infelizes em que atacou Obama de maneira baixa. O que importa é que Hillary Clinton reuniu uma equipe de assessores e formuladores como poucas vezes se viu. E, ao fazer isso, elevou o nível do debate político e acabou por se tornar um sólido trampolim para o salto do próprio Obama.
É por essa disputa que a atual campanha presidencial nos EUA será lembrada. Porque as perspectivas para o debate eleitoral são as piores possíveis. Afinal, do outro lado estará ninguém menos do que John McCain. Não vai ser bonito de ver.


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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