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CARLOS HEITOR CONY
O rio assassino
RIO DE JANEIRO - Animal urbano, sempre me encantei com as
imagens bucólicas da roça, seus
costumes e lendas, sobretudo suas
sentenças incorporadas à sabedoria
do homem comum.
Dessas imagens, a que considero
mais ilustrativa é a do boi de piranha, sacrificado para que o resto da
boiada atravesse incólume o rio assassino.
Nenhuma novidade em comparar a política com esse rio infestado
de dentes assassinos, prontos a devorar a carne fresca dos que ali se
atiram ou são atirados.
O caso mais recente é o da ministra-chefe da Casa Civil da Presidência. Para prestigiá-la, ou para se livrar dela, Lula a escolheu como
substituta preferencial no poder e
parece que ela não apenas gostou da
escolha, mas de certa forma a assumiu seriamente.
Ocupando o posto de um defenestrado, o Zé Dirceu, ela dava a impressão de que estaria acima do
bem e do mal, até que Lula teve a feliz ou infeliz idéia de fazê-la sua sucessora. Em pouquíssimo tempo, o
pedestal que a sustentava desmoronou, tornando-a suspeita das últimas embrulhadas em que o governo se meteu ou que se meteram
com o governo.
Primeiro foi o caso do dossiê contra FHC; agora é a transação complicadíssima da compra da Varig -
em que ela é formalmente acusada
de ter participado em nível de decisão final. Tal como no primeiro caso, é possível que a onda contra a
ministra fique diluída por outros
eventos que nos separam da nova
campanha presidencial.
Mas o apetite das forças interessadas em reduzir a nutrida candidata a osso descarnado continuará voraz. Lula é o responsável pelo potencial sacrifício de sua auxiliar
mais próxima. Acredito que foi uma
forma de avisar a outros possíveis
candidatos que o terceiro mandato
é mais seguro para todo o esquema
do poder atual.
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