|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Os "chutes" e o voo cego
SÃO PAULO - O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva diz que ficou
"triste" com os dados da economia
no primeiro trimestre (retrocesso
de 0,8%, o segundo trimestre consecutivo de queda, o que caracteriza
tecnicamente uma recessão).
Não fica, não, presidente. Esse
número, na velocidade em que gira
o mundo hoje, é do passado remoto.
O diabo é que tudo o que há sobre o
futuro é chute, inclusive do seu ministro da Fazenda. Guido Mantega
continua fazendo previsões, a mais
recente delas de crescimento de 1%
para o conjunto do ano, ainda que
admita que não será fácil.
Ao contrário de Mantega, a OCDE informa, conforme título na
Folha de ontem, que "o Brasil piora, enquanto cenário global evolui".
A OCDE vem a ser a Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Internacional, clubão dos
30 países mais ricos do mundo, mas
que não inclui o Brasil.
Como Mantega, tampouco tem
um recorde invejável em matéria
de previsões.
Se Lula lesse jornais, além de azia
sofreria de desorientação com tanto palpite contraditório.
Para ajudar o presidente e também o leitor, reproduzo duas frases,
ambas saídas na Folha no fim do
mês passado e que, para o meu gosto, deveriam estar doravante no cabeçalho do caderno Dinheiro.
Frase 1, de Charles Morris, 50
anos de experiência no mercado financeiro, autor de "O Crash de
2008": "Quando alguém diz que está vendo sinais de recuperação, ou
faz qualquer tipo de previsão, na
realidade não sabe de nada. Estamos todos em um voo cego".
Frase 2, de Daniel Kahneman,
professor de Princeton, psicólogo,
Nobel de Economia em 2002:
"É aterrorizante a ideia de que
não compreendemos o mundo em
que vivemos. E não compreendemos bem o que aconteceu em
2008".
Lula poderá continuar "triste",
mas não será enganado.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Relíquia do clientelismo
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Atração fatal Índice
|