|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Dinheiro manchado
É acertada a decisão do Banco
Central de rever em parte a invalidação de notas danificadas por
tintura durante tentativas de arrombamento a caixas eletrônicos.
Tal como estava em vigor desde
o início do mês, era arbitrária a determinação de invalidar todas as
notas manchadas, até mesmo as
fornecidas pelos próprios bancos
nos saques em caixas eletrônicos
de autoatendimento. Mais que o
dinheiro, ficou tisnada no episódio a reputação do Banco Central.
O objetivo da medida era evitar
que o criminoso de posse de notas
obtidas por meio de assaltos, muitos deles com explosivos potentes,
gastasse livremente o resultado
proveniente dos malfeitos.
Todos os mecanismos precisam
ser utilizados para tentar frear a
atual onda de ataques a esses depósitos de dinheiro. As eventuais
soluções, porém, jamais deveriam
afrontar os direitos do cidadão.
Ao obrigar o usuário a devolver
imediatamente a cédula, para detalhada análise e posterior -mas
não garantido- ressarcimento, a
resolução anterior do BC transformava vítimas em suspeitos de assalto a banco. Pior, se ao risco habitual de um saque noturno sucedesse o azar de receber uma nota
manchada, o cliente do banco deveria dirigir-se a um distrito policial para registrar o fato e tentar,
no dia seguinte, receber de volta o
que era seu de direito.
A decisão ora revista tinha um
componente de injustiça flagrante, pois a perda do valor prejudicaria de forma desproporcional os
clientes detentores de renda mais
baixa. Ninguém considera aceitável ser destituído de qualquer
quantia, independentemente dos
proventos, mas a perda de uma
nota de R$ 50 é muito mais importante para alguém que receba um
salário mínimo do que para um cidadão mais abastado.
Mesmo a decisão de invalidar a
totalidade das notas manchadas
em circulação merece reparos.
Tem pouco nexo com a realidade
imaginar que se possa verificar,
uma a uma, todas as cédulas de
todas as transações com dinheiro
que alguém faz no dia a dia. As
pessoas com visão deteriorada,
como os mais idosos, ficam especialmente vulneráveis. Terão de
contar, doravante, com a sorte.
A solução está em desbaratar de
vez as quadrilhas que atuam nesse tipo de crime, e não em criar inconveniências para os clientes. A
segurança de caixas e agências é
problema dos bancos e da polícia.
Texto Anterior: Editoriais: Justiça desfeita Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: PT, de Palocci a Delúbio Índice | Comunicar Erros
|