São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O Hospital das Clínicas, por justiça social

JOSÉ OTÁVIO COSTA AULER JÚNIOR


O Hospital das Clínicas não irá reduzir o atendimento de pacientes da rede pública em benefício de pacientes de planos de saúde privados

O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, maior sistema hospitalar universitário da América Latina, é a principal referência no atendimento público à população, não apenas de São Paulo, mas do país. Centro de excelência, realiza cerca de 300 mil atendimentos emergenciais e mais de 1,5 milhão de atendimentos ambulatoriais por ano. Possui o maior programa de residência médica do país.
Por sua reconhecida capacidade, o Hospital das Clínicas (HC) vem recebendo número crescente de pacientes, incluindo usuários de planos privados de saúde, que são atendidos gratuitamente no sistema acadêmico de saúde.
A conta desse atendimento vai para o SUS (Sistema Único de Saúde), retirando recursos que poderiam ser usados na assistência daqueles que dependem exclusivamente da rede pública. Atendemos 120 mil consultas do SUS por mês. Há uma distorção clara e séria.
Cada vez mais pacientes atendidos de forma gratuita pelo HC possuem planos de saúde. São pessoas que pagam uma empresa privada para que, quando precisarem, possam ser atendidas pela rede hospitalar credenciada. No entanto, quando de fato necessitam de atendimento especializado, acabam buscando a excelência do HC.
Existe um quadro de evidente e indevido benefício aos planos de saúde, que recebem de seus clientes enquanto estes estão saudáveis, mas que, muitas vezes, não gastam um centavo sequer quando eles precisam de tratamento, principalmente os mais caros.
Por questão de justiça social, é necessário corrigir tal distorção.
Propõe-se, portanto, não ampliar o atendimento a convênios no HC, e sim cobrar dos planos de saúde, e apenas deles, pelo atendimento que já é feito aos seus clientes.
Atualmente, só 3% dos pacientes têm o seu atendimento prontamente pago pelos seus convênios. Se os planos pagarem pelo atendimento de todos os seus clientes no HC, a receita poderá ser revertida para a melhora do atendimento dos pacientes do SUS. Poderemos enfrentar, e superar, o desafio de fazer com que os atendimentos a pacientes do SUS e de convênios particulares caminhem juntos, com redução do tempo de espera e melhoria da infraestrutura oferecida aos pacientes da rede pública.
Para isso, o HC tem como meta dobrar a sua capacidade de investimento, em obras e equipamentos, de R$ 25 milhões para R$ 50 milhões em 2012.
O Hospital das Clínicas não irá reduzir o atendimento de pacientes da rede pública em benefício de pacientes de planos. Não é correto afirmar que o HC pretenda quadruplicar o atendimento a conveniados. Repito: esse atendimento já é feito. Apenas não é cobrado das empresas de planos e convênios.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, como instituição universitária, mantém e reforça seu compromisso com o SUS. Colocaremos sempre os interesses de nossos pacientes em primeiro lugar, por atendimento universal, gratuito e de qualidade. Esta, sim, deve ser a luta de todos nós.

JOSÉ OTÁVIO COSTA AULER JÚNIOR, professor titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), é vice-diretor em exercício da diretoria da FMUSP e presidente em exercício do conselho deliberativo do Hospital das Clínicas.

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