São Paulo, quarta, 10 de junho de 1998

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DESPREPARO CRIMINOSO

Vários indicadores mostram que tem melhorado a educação brasileira. Cai, por exemplo, a quantidade de crianças fora da escola e diminui o número de analfabetos. Apesar desses e de outros avanços, o simples fato de que se tenha ainda que olhar para questões dessa natureza é um sinal de que o drama educacional brasileiro continua enorme e, mais do que isso, de que os desafios tendem a aumentar à medida que se identifica e enfrenta cada problema.
O MEC e alguns governos estaduais têm sofisticado as técnicas de mapeamento dos principais gargalos da educação e demonstrado empenho, maior ou menor, em solucioná-los. O Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, conhecido como Saresp, é um bom exemplo disso. Os resultados obtidos por esse estudo, divulgados por esta Folha, são estarrecedores.
Foi submetido a teste cerca de 1 milhão de crianças de 4ª e 8ª séries da rede pública estadual paulista. Conclusão: apenas 15% dos alunos terminam hoje o 1º grau dominando simples operações de multiplicar e dividir. Ou seja, milhares de jovens, muitos deles obrigados a interromper os estudos para ingressar prematuramente num mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo, saem do ciclo básico com terríveis carências.
Isso não é responsabilidade exclusiva de um governo, mas fruto de décadas de incúria com a educação e a miséria. É óbvio que medidas como o aumento da jornada escolar, a melhor qualificação de professores e os programas de recuperação durante o ano letivo e nas férias atenuam o problema, como aliás o demonstram iniciativas do governo paulista.
Mas os graves danos educacionais, infelizmente irreparáveis para várias gerações, só serão superados no dia em que se der não apenas a devida prioridade às exigências do ensino, mas também às condições materiais da população mais pobre. Quando o IBGE registra que ainda há no Brasil 40% de crianças com menos de 14 anos vivendo em famílias com renda por pessoa inferior a R$ 60 mensais, não se pode pretender que elas saiam da escola devidamente preparadas.



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