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CULTURA PARA EXPORTAR
Câmbio difícil, custos de transporte, juros altos, competição externa. A
lista de dificuldades para o exportador brasileiro continua bastante longa. Menos discutidas, entretanto,
são as barreiras de ordem cultural,
que podem ser decisivas.
Esse é um dos argumentos centrais
do empresário Benjamin Steinbruch,
presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica
Nacional, da Metropolitana e da Vale
do Rio Doce, em artigo publicado
ontem nesta Folha.
A cultura exportadora tem duas
mãos. De um lado, é preciso evitar a
já tradicional inclinação brasileira a
considerar como "moderno", em geral, tudo o que vem de fora ou é ditado por empresas internacionais. É o
que explica, até certo ponto, o que
Steinbruch qualifica de "excesso de
velocidade" da abertura comercial
brasileira, baseada na suposição falsa de que, por decreto, o país chegaria ao chamado Primeiro Mundo.
A outra exigência da cultura exportadora é o preparo para enfrentar a
concorrência. Ou seja, evitar o erro
simétrico de simplesmente fechar-se
a toda ameaça externa. Além disso, é
preciso quebrar a inércia de setores
que prosperaram à sombra de proteção excessiva e de favores fiscais.
Outro defeito do sistema brasileiro,
citado por Steinbruch, é a concentração excessiva das vendas externas em
grandes empresas multinacionais.
As pequenas e médias empresas não
sabem e ainda não conseguem se tornar globais. A cultura necessária para mudar esse quadro não virá por
lei, menos ainda pela ameaça de uma
exposição suicida das empresas nacionais à competição.
Na política econômica, trata-se de
buscar uma estratégia exportadora
que evite os extremos do aberturismo e do protecionismo. Infelizmente, ainda estamos longe disso. O
ajuste exportador brasileiro, recorrentemente, faz-se por meio da contração forçada da demanda do mercado interno. É um ciclo que destrói
mais do que constrói, até do ponto de
vista da cultura empresarial.
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