São Paulo, quarta, 10 de junho de 1998

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CULTURA PARA EXPORTAR

Câmbio difícil, custos de transporte, juros altos, competição externa. A lista de dificuldades para o exportador brasileiro continua bastante longa. Menos discutidas, entretanto, são as barreiras de ordem cultural, que podem ser decisivas.
Esse é um dos argumentos centrais do empresário Benjamin Steinbruch, presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional, da Metropolitana e da Vale do Rio Doce, em artigo publicado ontem nesta Folha.
A cultura exportadora tem duas mãos. De um lado, é preciso evitar a já tradicional inclinação brasileira a considerar como "moderno", em geral, tudo o que vem de fora ou é ditado por empresas internacionais. É o que explica, até certo ponto, o que Steinbruch qualifica de "excesso de velocidade" da abertura comercial brasileira, baseada na suposição falsa de que, por decreto, o país chegaria ao chamado Primeiro Mundo.
A outra exigência da cultura exportadora é o preparo para enfrentar a concorrência. Ou seja, evitar o erro simétrico de simplesmente fechar-se a toda ameaça externa. Além disso, é preciso quebrar a inércia de setores que prosperaram à sombra de proteção excessiva e de favores fiscais.
Outro defeito do sistema brasileiro, citado por Steinbruch, é a concentração excessiva das vendas externas em grandes empresas multinacionais. As pequenas e médias empresas não sabem e ainda não conseguem se tornar globais. A cultura necessária para mudar esse quadro não virá por lei, menos ainda pela ameaça de uma exposição suicida das empresas nacionais à competição.
Na política econômica, trata-se de buscar uma estratégia exportadora que evite os extremos do aberturismo e do protecionismo. Infelizmente, ainda estamos longe disso. O ajuste exportador brasileiro, recorrentemente, faz-se por meio da contração forçada da demanda do mercado interno. É um ciclo que destrói mais do que constrói, até do ponto de vista da cultura empresarial.



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