São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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Futuro incerto

Fórum lança estratégia para a biotecnologia nacional, não ousa em prioridades e ignora a pasta do Meio Ambiente

NA BIOTECNOLOGIA , como em tantos setores, o Brasil permanece confortável na posição de país do futuro. No tempo presente, porém, não teve ainda a capacidade de usar a maior biodiversidade do mundo como ponto de apoio para alavancar uma bioindústria pujante.
Não é decerto por falta de planos de vôo que o setor se encontra há anos taxiando na pista da inovação. Como a governos resulta mais fácil produzir documentos do que políticas factíveis, a administração Lula também produziu sua declaração de intenções: "Estratégia Nacional de Biotecnologia", encaminhado à Presidência no último dia 4 pelo Fórum de Competitividade de Biotecnologia. Se adotado, passaria a integrar o planejamento plurianual federal.
Após quase dois anos de atividade, o colegiado de 75 instituições coordenado por quatro ministérios (Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Saúde e Agricultura) produziu um roteiro para investir, nos próximos dez anos, R$ 7 bilhões de recursos privados e públicos. A meta é capitalizar o conhecimento gerado em cerca de 1.700 grupos de pesquisa biotecnológica na forma de produtos e processos capazes de aumentar a competitividade da indústria e da agropecuária no mercado internacional, levando o país ao clube dos líderes do ramo em 10 ou 15 anos.
Cerca de R$ 380 milhões seriam investidos para fomentar o surgimento de 300 embriões de empresas biotecnológicas, das quais se espera que sobrevivam e amadureçam 20. Para a formação de recursos humanos especializados iriam mais R$ 64 milhões por ano, outros R$ 382 milhões para infra-estrutura de pesquisa e assim por diante.
Embora liste uma série de áreas e produtos estratégicos e prioritários, o documento não chega propriamente a estabelecer prioridades: entre as três áreas clássicas da biotecnologia -vermelha, verde e branca, ou, respectivamente, saúde, agronegócio e indústria-, optou pelas três. Um pouco da ousadia aplicada na elucubração orçamentária talvez ajudasse a arbitrar em favor do agronegócio, área em que o Brasil reúne mais vantagens comparativas.
Além disso, suscita estranheza que entre tantos ministérios e instituições mobilizados para parir a estratégia de biotecnologia não se encontrem aqueles que, na Esplanada dos Ministérios, têm jurisdição e munição para embargar as boas intenções ora alinhavadas. A pasta do Meio Ambiente acabou ficando à margem do processo.
Se alguém duvidar de sua resistência ao apelo revolucionário da biotecnologia, deveria informar-se sobre sua atuação em outros colegiados, como a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Muitos dos projetos e iniciativas fomentados sob a nova política, porém, poderão um dia necessitar de licenças ambientais daquelas repartições que, no presente, não contribuíram para tal planejamento estratégico. É por esse gênero de imprevidência que o futuro, por aqui, tarda tanto a chegar.


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