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Futuro incerto
Fórum lança estratégia
para a biotecnologia
nacional, não ousa em
prioridades e ignora
a pasta do Meio Ambiente
NA BIOTECNOLOGIA , como em tantos setores,
o Brasil permanece
confortável na posição
de país do futuro. No tempo presente, porém, não teve ainda a capacidade de usar a maior biodiversidade do mundo como ponto
de apoio para alavancar uma
bioindústria pujante.
Não é decerto por falta de planos de vôo que o setor se encontra há anos taxiando na pista da
inovação. Como a governos resulta mais fácil produzir documentos do que políticas factíveis,
a administração Lula também
produziu sua declaração de intenções: "Estratégia Nacional de
Biotecnologia", encaminhado à
Presidência no último dia 4 pelo
Fórum de Competitividade de
Biotecnologia. Se adotado, passaria a integrar o planejamento
plurianual federal.
Após quase dois anos de atividade, o colegiado de 75 instituições coordenado por quatro ministérios (Desenvolvimento,
Ciência e Tecnologia, Saúde e
Agricultura) produziu um roteiro para investir, nos próximos
dez anos, R$ 7 bilhões de recursos privados e públicos. A meta é
capitalizar o conhecimento gerado em cerca de 1.700 grupos de
pesquisa biotecnológica na forma de produtos e processos capazes de aumentar a competitividade da indústria e da agropecuária
no mercado internacional, levando o país ao clube dos líderes do
ramo em 10 ou 15 anos.
Cerca de R$ 380 milhões seriam investidos para fomentar o
surgimento de 300 embriões de
empresas biotecnológicas, das
quais se espera que sobrevivam e
amadureçam 20. Para a formação de recursos humanos especializados iriam mais R$ 64 milhões por ano, outros R$ 382 milhões para infra-estrutura de
pesquisa e assim por diante.
Embora liste uma série de
áreas e produtos estratégicos e
prioritários, o documento não
chega propriamente a estabelecer prioridades: entre as três
áreas clássicas da biotecnologia
-vermelha, verde e branca, ou,
respectivamente, saúde, agronegócio e indústria-, optou pelas
três. Um pouco da ousadia aplicada na elucubração orçamentária talvez ajudasse a arbitrar em
favor do agronegócio, área em
que o Brasil reúne mais vantagens comparativas.
Além disso, suscita estranheza
que entre tantos ministérios e
instituições mobilizados para parir a estratégia de biotecnologia
não se encontrem aqueles que,
na Esplanada dos Ministérios,
têm jurisdição e munição para
embargar as boas intenções ora
alinhavadas. A pasta do Meio
Ambiente acabou ficando à margem do processo.
Se alguém duvidar de sua resistência ao apelo revolucionário da
biotecnologia, deveria informar-se sobre sua atuação em outros
colegiados, como a Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Muitos dos projetos e iniciativas fomentados
sob a nova política, porém, poderão um dia necessitar de licenças
ambientais daquelas repartições
que, no presente, não contribuíram para tal planejamento estratégico. É por esse gênero de imprevidência que o futuro, por
aqui, tarda tanto a chegar.
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