São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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CARLOS HEITOR CONY

A grande caverna

RIO DE JANEIRO - Que foi um espetáculo, foi. A prisão de um banqueiro, de um megainvestidor, de um ex-prefeito da maior cidade do Brasil, além de quase duas dezenas de peixes menores, não constitui uma surpresa em si, mas a confirmação dos cupins que devoram a estrutura de nossa vida pública: a corrupção.
Não se precisa ir tão longe no tempo, apesar da corrupção estar instalada no organismo da nação desde os tempos de Cabral -quando ainda não havia sequer a nação. As privatizações, algumas necessárias, outras nem tanto, ocorridas no governo de FHC, abriram a caverna de Ali Babá não apenas para os 40 ladrões de praxe, mas para muitos mais.
De qualquer forma, mesmo descontando certa truculência operacional da PF, o choque policial serviu para confirmar o que já se sabia. Os três nomes principais envolvidos na questão, Dantas, Nahas e Pitta, já estavam sinalizados no mapa da corrupção. Constituem, a bem da verdade, a parte visível do iceberg que flutua nas águas insondáveis onde navegam os apetites de poder e fortuna.
Os chamados criminosos de colarinho, em sua maioria, não são bandidos comuns, que assaltam pela força bruta. São especialistas em economia, finanças, administração, direito internacional, formaram-se em Harvard, descobrem os atalhos que podem ser trilhados para obtenção de maior lucro, pagando comissões e subornos quando necessário. Nada que um bom advogado, também formado em Harvard ou entidade equivalente, não possa livrar da cadeia ou do seqüestro dos bens.
Aliás, um dos presos de anteontem declarou que nada temia do Supremo Tribunal Federal, no caso de um pedido de habeas corpus. E o próprio presidente do STF, em declaração aos jornais, já condenou a operação da Polícia Federal.


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