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CARLOS HEITOR CONY
A grande caverna
RIO DE JANEIRO - Que foi um
espetáculo, foi. A prisão de um banqueiro, de um megainvestidor, de
um ex-prefeito da maior cidade do
Brasil, além de quase duas dezenas
de peixes menores, não constitui
uma surpresa em si, mas a confirmação dos cupins que devoram a
estrutura de nossa vida pública: a
corrupção.
Não se precisa ir tão longe no
tempo, apesar da corrupção estar
instalada no organismo da nação
desde os tempos de Cabral -quando ainda não havia sequer a nação.
As privatizações, algumas necessárias, outras nem tanto, ocorridas no
governo de FHC, abriram a caverna
de Ali Babá não apenas para os 40
ladrões de praxe, mas para muitos
mais.
De qualquer forma, mesmo descontando certa truculência operacional da PF, o choque policial serviu para confirmar o que já se sabia.
Os três nomes principais envolvidos na questão, Dantas, Nahas e
Pitta, já estavam sinalizados no mapa da corrupção. Constituem, a
bem da verdade, a parte visível do
iceberg que flutua nas águas insondáveis onde navegam os apetites de
poder e fortuna.
Os chamados criminosos de colarinho, em sua maioria, não são bandidos comuns, que assaltam pela
força bruta. São especialistas em
economia, finanças, administração,
direito internacional, formaram-se
em Harvard, descobrem os atalhos
que podem ser trilhados para obtenção de maior lucro, pagando comissões e subornos quando necessário. Nada que um bom advogado,
também formado em Harvard ou
entidade equivalente, não possa livrar da cadeia ou do seqüestro dos
bens.
Aliás, um dos presos de anteontem declarou que nada temia do Supremo Tribunal Federal, no caso de
um pedido de habeas corpus. E o
próprio presidente do STF, em declaração aos jornais, já condenou a
operação da Polícia Federal.
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