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KENNETH MAXWELL
Vitória?
EM 2 DE JULHO, as Forças Armadas da Colômbia executaram o resgate perfeito. Hollywood não poderia ter inventado
missão mais espetacular. Sem disparar um tiro ou causar qualquer
morte, 15 reféns que haviam passado mais de meia década aprisionados, entre os quais Ingrid Betancourt e três norte-americanos, foram retirados da selva debaixo do
nariz das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc) e puderam voltar para suas famílias.
Esse resgate dos seqüestrados
representou uma imensa vitória
para o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Seu índice de aprovação atingiu os 91% nesta semana.
Nos últimos anos os analistas têm
dito que a América Latina estava se
inclinando à esquerda. Hugo Chávez atraía todas as atenções. Mas
com Uribe na Colômbia e Felipe
Calderón no México, o que está
emergindo de fato é uma nova direita democrática. Faltava à América Latina uma alternativa conservadora viável e confiável, livre das
tentações autoritárias do passado e
disposta a trabalhar sem constrangimento com os Estados Unidos
para a defesa de interesses comuns. A Colômbia, e agora o México, evidentemente foram recompensados no plano material, com
infusões maciças de assistência
bancada pelos contribuintes norte-americanos. E a capacidade das
Forças Armadas colombianas sem
dúvida se beneficiou dessa generosidade de Washington.
Há um porém. A assistência norte-americana à Colômbia e ao México está condicionada a uma redução na produção de narcóticos: sufocar a oferta. Mas o comércio de
cocaína floresce como nunca. Seus
tentáculos, rotas internacionais e
operações de lavagem de dinheiro
se expandiram dramaticamente no
Brasil e na África Ocidental. A estimativa é que cerca de 300 toneladas de cocaína passem pelo México
para chegar aos Estados Unidos, a
cada ano, e o valor dessas drogas do
outro lado da fronteira é estimado
em US$ 25 bilhões. As cidades
fronteiriças do norte do México se
tornaram zonas de combate para
as gangues de traficantes de drogas.
Em última análise, o comércio de
drogas é uma questão de demanda,
e os Estados Unidos continuam a
ser um mercado insaciável. Mas a
"guerra contra as drogas" foi terceirizada para a América Latina de
maneira tão efetiva que nem mesmo faz parte das perguntas apresentadas aos eleitores nas pesquisas de opinião para o pleito deste
ano nos EUA. A derrota das Farc
não é a mesma coisa que uma vitória sobre o narcotráfico. Ninguém
parece ter percebido que o helicóptero que conduziu Ingrid Betancourt e os demais cativos à liberdade pousou em um campo de coca.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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