São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO NA ONU

É cada vez mais complicada a situação do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que, a exemplo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vê a sua administração envolvida num histórico escândalo de corrupção que poderá até comprometê-lo pessoalmente.
A comissão independente que investiga desvios no Programa Petróleo por Comida, o qual permitia ao Iraque sob embargo econômico trocar óleo por alimentos e remédios, acaba de acusar o diretor do programa, Benon Senan, de ter-se beneficiado de propinas pagas por uma empresa envolvida no esquema de fraudes. Alexander Yakovlev, outro alto funcionário da organização, também foi incriminado.
O Programa Petróleo por Comida, o maior esforço humanitário da ONU, teve início em 1996 e durou até 2003, com a eclosão do escândalo. Os desvios ocorriam porque as autoridades iraquianas, embora não controlassem diretamente os fluxos de dinheiro, conservavam o poder de decidir para quem venderiam o óleo e de quem comprariam os alimentos e remédios. Assim, Saddam Hussein pôde construir uma enorme rede de "colaboradores". Calcula-se que, dos US$ 64 bilhões que o programa movimentou, US$ 21 bilhões tenham sido desviados.
Annan pode estar envolvido. Seu filho Tojo fazia parte de um esquema. O secretário-geral diz que não sabia, mas alguns e-mails, cuja autenticidade não foi comprovada, sugerem que ele sabia mais do que admite. As investigações, chefiadas por Paul Volcker, ex-presidente do Fed, o banco central dos EUA, continuam e o relatório final da comissão, previsto para setembro, deverá elucidar a questão.
O escândalo dá munição aos críticos da ONU, que a descrevem como uma organização irrelevante, cara e corrupta. Um dos principais representantes dessa linha de pensamento, John Bolton, acaba de assumir o posto de embaixador dos EUA nas Nações Unidas. Não há dúvida de que a ONU precisa urgentemente de reformas, não só para torná-la menos vulnerável à corrupção como também para deixá-la mais representativa. O que não se deve admitir, como querem alguns falcões de Washington, é enfraquecê-la. Embora imperfeita, a ONU é o principal fórum multilateral do planeta.


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