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CLÓVIS ROSSI
Pernas e bolsos
SÃO PAULO - Simpatizo imensamente com a idéia do ministro Nelson Jobim de aumentar o "espaço
vital" nos aviões. Se ele, um baixinho de 1,90m, tem dificuldades para acomodar-se, imagine eu, com
oito centímetros a mais.
Simpatia à parte, sou obrigado a
reconhecer que a tese do ministro é
inaplicável. O Ministério da Defesa
não tem como meter-se na configuração dos aviões. Aliás, como já
mostrou Janio de Freitas nesta
mesma Folha, não deveria nem
meter-se com a aviação comercial.
Não é sua praia (ou o seu céu).
Se o ministro quiser mais espaço
para sua pernas, conviria entender
melhor como se chegou à redução
do "espaço vital", fenômeno que
não é só brasileiro, diga-se. Com a
desregulamentação dos céus, foram sendo criadas companhias aéreas de baixo custo, que oferecem
preços baixos em troca de conforto
igualmente baixo (até para quem
tem bem menos de 1,90 m).
As companhias tradicionais tiveram que correr atrás, o que, entre
outros tópicos, significou reduzir
os espaços internos para acomodar
mais gente e, por extensão, vender
mais e lucrar mais.
Não há, portanto, muito o que o
governo (qualquer governo) possa
fazer para aumentar o "espaço vital". A não ser, eventualmente (e
friso o eventualmente), fomentar o
aumento da concorrência.
No momento, a única maneira de
fazê-lo rapidamente seria aceitar
que empresas estrangeiras ampliassem o tipo de operações que
fazem do ou para o Brasil.
Hoje, a Lufthansa, alemã, só pode
voar São Paulo/Frankfurt (ou Munique). De repente, diversificar
suas opções ofereceria alternativas
aos passageiros.
Nem sei se interessa às empresas
estrangeiras. Mas a graça do capitalismo está justamente na competição. Só ela permite uma oferta ampla e diversificada de preços e confortos para todos os bolsos e para
todas as pernas.
crossi@uol.com.br
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