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NELSON MOTTA
Inimigos íntimos
RIO DE JANEIRO - Nem a Polícia
Federal, nem o Ministério Público,
nem a imprensa: foram atos individuais de Pedro Collor, Nicéa Pitta e
Roberto Jefferson que trouxeram à
luz as tenebrosas transações que levaram ao impeachment de Collor, à
condenação de Celso Pitta, ao mensalão e à queda de José Dirceu.
Essas pessoas, movidas por sentimentos pessoais, acabaram prestando inestimáveis serviços ao país.
Sem o ódio deles, tudo continuaria
como estava. É o que vale: a história
não é feita de boas intenções, mas
de conseqüências. Traições, humilhações, invejas, rancores, o ser humano é muito sensível a esses sentimentos. Aqui, a vingança não é um
prato comido frio, mas fumegante.
Renan Calheiros, por exemplo,
foi um dos artífices da vitória de
Collor sobre Lula, integrou a linha
de frente collorida e só rompeu com
elle quando foi preterido em favor
de Geraldo Bulhões para o governo
de Alagoas. Até então, estava poderoso na cúpula do governo, freqüentava o círculo íntimo presidencial e nunca percebeu nada de
errado com o poder de PC Farias e a
ética de Collor e da República de
Alagoas.
Traído, rompeu com seu líder em
nome da decência e da democracia.
Derrotado, denunciou a farsa
collorida e, sempre um homem de
esquerda, foi para a trincheira democrática do PMDB, unindo-se a
Sarney e a Jader.
Como nos romances regionalistas sobre guerras entre famílias
nordestinas, uma outra vingança
pessoal -pela traição de Renan ao
usineiro e ex-companheiro de lutas
João Lyra na eleição para o governo
de Alagoas- revelou que ele pagara
R$ 1,3 milhão, não contabilizados,
para ser sócio, oculto e ilegal, do
acusador em uma rádio e um jornal.
Não por acaso, é justamente o
medo da vingança de Renan que
atrasa a sua expulsão do Senado.
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