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A REAÇÃO DE PUTIN
Como era previsível, o governo
russo vai elevando o tom da retórica antiterrorista e, presume-se,
também da repressão na Tchetchênia. Difícil é imaginar quais possam
ser os "novos métodos" que o presidente Vladimir Putin anunciou que
usará na república separatista, já dizimada por uma década de guerra repleta de atrocidades de lado a lado.
Na segunda fase do conflito, de 1999
até hoje, pereceram 15 mil soldados
russos e 50 mil tchetchenos.
No plano da oratória, os sinais de
endurecimento são mais do que eloqüentes. Traduzindo para o russo a
Doutrina Bush, o general Yuri Baluyevsky, chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas russas, afirmou que
seu país poderia fazer "ataques preventivos" contra bases de terroristas
"em qualquer região do mundo".
Também repetindo o que se verificou nos EUA após o 11 de Setembro,
funcionários do governo e legisladores russos falam em adotar medidas
que facilitem o combate ao terrorismo. Cogita-se de emitir e exigir licenças de residência e de restringir o direito de viajar dentro da Rússia. O
prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov,
sugeriu que se impeça o acesso de
tchetchenos à capital. Se nos Estados
Unidos, com toda a sua tradição de
respeito às liberdades civis, vários
dispositivos draconianos de segurança foram adotados, no caso russo
há razões para temer pela própria
manutenção das ainda incipientes
instituições democráticas.
Para agravar o quadro, a pressão
mundial, em especial da União Européia (UE), que poderia servir de freio
aos apetites autocráticos de Putin, dificilmente se materializará. No mundo da "realpolitik" a Rússia não é um
país com o qual convenha indispor-se. O Kremlin ainda detém significativo arsenal nuclear e poder de veto
na ONU. Além disso, os russos vão
se tornando o principal produtor
mundial de petróleo. Se eram mínimas as chances de negociações com
a Tchetchênia, elas parecem se tornar nulas agora que Putin obtém
apoio de Washington em sua campanha para identificar o terrorismo
tchetcheno ao da Al Qaeda.
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