São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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PESQUISA FECHADA

Vai crescendo a pressão da comunidade científica para que a indústria farmacêutica publique os resultados das pesquisas com medicamentos que realiza. O pleito, legítimo, é fundamental para o avanço da ciência, cujo pressuposto é a ampla troca de informação entre os que a produzem. O problema é que esse princípio freqüentemente esbarra nos interesses comerciais dos grandes laboratórios. Não faz sentido na economia de mercado que uma empresa publique resultados de testes que lhe sejam desfavoráveis.
Os interesses parecem inconciliáveis. Não há dúvida de que a ciência deva prevalecer, pois é nela que se depositam as esperanças de milhões de pessoas que poderiam se beneficiar de informação mais precisa.
É ilustrativa, a esse respeito, a opinião de especialistas da Cancer Research UK, ONG britânica que apóia pesquisas oncológicas. Segundo o chefe dos programas clínicos da instituição, divulgar os resultados é fundamental para que a comunidade médica possa indicar o melhor tratamento possível para os pacientes.
Estudo realizado em 2003 mostrou que, de 500 pesquisas clínicas relacionadas ao câncer anunciadas em simpósios, 26% não tiveram seus resultados publicados nem após cinco anos. E o que interessa para a ciência -e para os pacientes- são justamente os resultados desfavoráveis. Se apenas o que parece bom chega ao domínio público, cria-se um viés sugestivo de que o tratamento e as drogas apresentam mais eficiência do que de fato possuem. Num raciocínio extremo, a não-publicação resulta em propaganda enganosa.
Entre reconhecer a necessidade da publicação e convencer a indústria a acatá-la há grande distância. De toda forma, a pressão parece estar surtindo algum efeito. Nesta semana, representantes de laboratórios anunciaram a criação de uma base de dados na qual empresas poderão, se quiserem, fazer a divulgação parcial dos resultados de seus testes. Não deixa de ser um começo.


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