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ELIANE CANTANHÊDE
A pressão argentina
BRASÍLIA - A Argentina continua jogando duro, e o Brasil continua
agüentando o tranco. A pressão, contudo, está se tornando insustentável.
O governo Néstor Kirchner já criou
caso com geladeiras e fogões brasileiros, entre outros. Agora quer limitar
a importação de carros e quer que o
Brasil deixe de oferecer incentivos fiscais para atrair empresas.
Mesmo comedidos diplomatas começam a achar que assim já é demais. Devemos e podemos conviver
pacificamente, fazer alianças estratégicas e ser camaradas no comércio
com o país vizinho, até porque estamos condenados a isso pela geografia
e pela necessidade de sobrevivência
do Mercosul. Mas tudo tem limites.
Setores do Planalto e do Itamaraty
diziam que a intenção era receber
ontem o ministro da Economia da
Argentina, Roberto Lavagna, "com
ouvidos bem abertos e a boca fechada
para concessões". Furlan (Desenvolvimento) concedeu mais um pouco,
mas apenas para não reduzir a visita
a uma sucessão de "nãos".
A questão é que o governo brasileiro já fez o que pôde, mas os setores
produtivos não estão gostando nada
das pressões argentinas e das concessões brasileiras. Até porque, a cada
cota, a cada limitação imposta corresponde uma seqüência de perdas.
Inclusive com ameaça de empregos.
O discurso argentino de Kirchner e
Lavagna é um muro de lamentações
contra as "assimetrias negativas" na
produção e no comércio entre os dois
países. Leia-se: o Brasil é muito forte,
e a Argentina, muito fraca.
O problema, porém, não foi criado
pelo Brasil. Os argentinos não investiram numa planta industrial, adotaram a política maluca da paridade
dólar-peso e aderiram sem pudor às
"relações carnais" com os EUA. Nós é
que vamos pagar o pato?
O governo Lula tem sido duro com
os ricos (EUA e União Européia) e
maleável com os países pobres (já
perdoou algo em torno de US$ 1 bilhão deles). Com a Argentina não
precisa ser nem uma coisa nem outra. O país não é rico, mas não tem
nada de tão pobrezinho assim.
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