São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

A pressão argentina

BRASÍLIA - A Argentina continua jogando duro, e o Brasil continua agüentando o tranco. A pressão, contudo, está se tornando insustentável.
O governo Néstor Kirchner já criou caso com geladeiras e fogões brasileiros, entre outros. Agora quer limitar a importação de carros e quer que o Brasil deixe de oferecer incentivos fiscais para atrair empresas.
Mesmo comedidos diplomatas começam a achar que assim já é demais. Devemos e podemos conviver pacificamente, fazer alianças estratégicas e ser camaradas no comércio com o país vizinho, até porque estamos condenados a isso pela geografia e pela necessidade de sobrevivência do Mercosul. Mas tudo tem limites.
Setores do Planalto e do Itamaraty diziam que a intenção era receber ontem o ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, "com ouvidos bem abertos e a boca fechada para concessões". Furlan (Desenvolvimento) concedeu mais um pouco, mas apenas para não reduzir a visita a uma sucessão de "nãos".
A questão é que o governo brasileiro já fez o que pôde, mas os setores produtivos não estão gostando nada das pressões argentinas e das concessões brasileiras. Até porque, a cada cota, a cada limitação imposta corresponde uma seqüência de perdas. Inclusive com ameaça de empregos.
O discurso argentino de Kirchner e Lavagna é um muro de lamentações contra as "assimetrias negativas" na produção e no comércio entre os dois países. Leia-se: o Brasil é muito forte, e a Argentina, muito fraca.
O problema, porém, não foi criado pelo Brasil. Os argentinos não investiram numa planta industrial, adotaram a política maluca da paridade dólar-peso e aderiram sem pudor às "relações carnais" com os EUA. Nós é que vamos pagar o pato?
O governo Lula tem sido duro com os ricos (EUA e União Européia) e maleável com os países pobres (já perdoou algo em torno de US$ 1 bilhão deles). Com a Argentina não precisa ser nem uma coisa nem outra. O país não é rico, mas não tem nada de tão pobrezinho assim.


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