São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2007

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Os vivos e os mortos

SÃO PAULO - Difícil encontrar quem não esteja saturado de Renan Calheiros. Difícil até abordar um escândalo sobre o qual já se falou demais e já se sabe o bastante. Como observou outro dia Ricardo Melo, editor da Primeira Página desta Folha, a crise já não é nem mais ética -é de metáforas.
E, no entanto, apesar de tudo, Renan Calheiros tem boas chances de se safar da cassação depois de amanhã. Há razões demais e vontade de menos para impor a punição cabível ao presidente do Senado.
Renan conta, primeiro, com a realpolitik do Planalto e a ruína moral do PT; tem ainda em seu favor o compadrio, que arrasta boa parte da oposição para seu lado, e as chantagens, que distribui aqui e ali. Além, é claro, do PMDB, cuja atuação exemplar é uma aula prática de história sincera da República.
O fato de que tudo vá se resolver no escuro, em sessão e votação secretas, em tese favorece a lambança. Quando acenderem a luz, veremos o saldo da festa: "Não fui eu!" -dirão, de ressaca, os inocentes.
O revertério, porém, vem no instante seguinte. A absolvição de Renan terá como saldo a ampliação da crise política. Os acertos para o "day after", pelos quais o senador trocaria o cargo pelo mandato, talvez servissem lá atrás, mas parecem frágeis diante do acúmulo de denúncias (há mais três representações na fila do Conselho de Ética) e de um ambiente tão deteriorado.
Lula, desta vez, não terá como dizer que o partido mais ético do mundo ajudou a salvar o senador mais inocente do mundo. Mesmo vivo, Renan morreu -e o governo, eticamente morto, viverá sem ele.

 

Enquanto a Igreja Católica juntava 5.000 "excluídos" na praça da Sé, em São Paulo, para apoiar a reestatização da Vale, Edir Macedo reunia, no Rio, 650 mil e distribuía carnês para que os fiéis financiem a ampliação do império de mídia da Igreja Universal. Qual dos dois eventos traduz melhor a fé popular e a modernidade da era Lula?


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