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ALBA ZALUAR
E os ameríndio-descendentes?
O CONGRESSO da Associação
de Estudos Latino-americanos reuniu-se em Montreal
com um grande número de participantes e temas de discussão. Não
poderiam faltar os pós. Um dos
mais interessantes foi o pós-Consenso de Washington, que, na verdade, apresentou novo consenso
em torno do politicamente correto.
Desde Washington, propõe-se a
ação afirmativa, a democracia participativa e aquilo que um brilhante expositor chamou do africanismo na política do Banco Mundial
e demais bancos para o desenvolvimento dos países da América
Latina.
Ao transformar as demandas do
movimento negro em políticas de
Estado, ao incorporar seus líderes
em ministérios, ao eleger as organizações não-governamentais como representantes da "sociedade
civil" e recipientes das verbas para
a integração dos excluídos, a governabilidade melhorou, mas a autonomia do movimento social, baseada no trabalho voluntário e na independência diante das burocracias governamentais, foi abalada.
Pior, esqueceram-se dos descendentes de ameríndios. Os líderes
indígenas dos países latino-americanos onde esta população predomina cunharam uma irônica frase:
"Entramos negros, saímos afro-descendentes".
Dados da pesquisa de vitimização realizada há pouco nas favelas
do Rio de Janeiro revelam efeitos
não esperados da política de cotas
adotada pelas universidades públicas. Quando se examinou a escolaridade dos favelados, veio a surpresa.
Enquanto 70% dos favelados
têm ensino fundamental, 23% ensino médio e 1,8% ensino superior
nas médias das cores branca, preta
e parda, o quadro muda quando se
cotejam as três cores. Um percentual mais alto dos pretos (2,9%)
apareceu em comparação com os
2% de brancos e o 0,9% de pardos,
majoritariamente ameríndio-descendentes. Os intervalos de confiança têm mantido a tendência.
Destes 2,9% de pretos que chegaram à universidade não há mulheres. Seriam então 7,7% de homens pretos e favelados que entraram ou concluíram o ensino universitário na amostra de 660 pessoas de 15 anos e mais entrevistadas. Os homens de cor de pele preta, mais visivelmente afro-descendente do que os pardos e brancos, estão de parabéns.
Mas por que a política de cotas
não está beneficiando igualmente
homens e mulheres, ou pardos e
pretos, igualmente pobres ou até
mesmo os brancos favelados que
têm renda apenas ligeiramente superior?
As políticas públicas que pretendem instituir a eqüidade devem ser
permanentemente examinadas, e
seus resultados, avaliados, para
que não se instituam novas desigualdades e injustiças.
ALBA ZALUAR 0escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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