São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

Banida da campanha

BRASÍLIA - Contrariando as expectativas, a política externa tem sido a grande ausente da campanha eleitoral. Afora Índio da Costa acusando o PT de ligações com as Farc e Lula chamando os EUA de "elefante grandalhão", nada se vê, se ouve ou se discute sobre relações com Washington, União Europeia, América do Sul, China e Irã.
É uma pena, mas faz sentido. Para a candidata da situação, basta aparecer ao lado de Lula. Para o candidato de oposição, só resta falar de saúde e de quebra de sigilo fiscal. Não há espaço para debater o mundo e o Brasil no mundo.
Além disso, o eleitor não dá a menor bola, e o governo e a oposição devem ter avaliado que teriam muito a perder e pouco a ganhar discutindo temas internacionais.
Lula, ops!, Dilma teria dificuldade para explicar a legitimação de um regime como o de Ahmadinejad, a aliança "cumpanheira" com Hugo Chávez e a lambança em Honduras. E Serra teria que engolir, sem contestar, vitórias como o salto de qualidade do Brasil no exterior.
Sem oposição real, nem parlamentar, nem dos sindicatos, nem dos movimentos sociais, quem acabou fazendo as vezes de criticar e cobrar o governo foram embaixadores ou ex-ministros que ocuparam posições de destaque com FHC, como Rubens Barbosa, Celso Lafer, Luiz Felipe Lampreia. Mas eles ficaram roucos de tanto falar, sem serem ouvidos por Lula nem considerados pelo PSDB.
Depois de oito anos de Lula e diante da perspectiva de no mínimo quatro de Dilma, eles perdem aliados no Itamaraty, onde Amorim age para fazer o secretário-geral, Antônio Patriota, seu sucessor. Se Marco Aurélio Garcia deixar.
Saiba-se que nem Patriota tem o fogo de Amorim, nem Dilma é um trunfo de política externa como Lula. Muita coisa pode mudar. Além disso, Fidel ressurgiu das cinzas embaralhando certezas e, apesar do pragmatismo, a relação do Brasil com os EUA é uma incógnita.

elianec@uol.com.br


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