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EUFORIA
Seria prudente que o país não
se deixasse ofuscar pelo brilho
da atual euforia dos mercados financeiros. Não se trata de ignorar os
avanços obtidos e os efeitos positivos
da recente melhoria na percepção do
país. Como se sabe, a perspectiva de
uma vitória eleitoral do PT agravou
as incertezas quanto aos compromissos a serem saldados e provocou
forte desconfiança em relação ao
Brasil, resultando em elevação das
avaliações de risco, da cotação do dólar e, consequentemente, da inflação. Passados, porém, nove meses
de governo, a política implementada
parece recobrar a confiança dos mercados financeiros, a despeito dos
graves efeitos deletérios sobre a atividade produtiva e o emprego.
Quem nutria receios a respeito de
"default", quebra de contratos, políticas populistas de gasto público e
intervencionismo no Banco Central
parece estar suficientemente seguro
de que, longe de uma ruptura, o que
está em curso é a continuidade da
política anterior. Mais ainda, a continuidade renovada por um apoio político que já faltava à gestão passada.
Nesse cenário de "choque de credibilidade", com resultados vistos como auspiciosos pelos mercados, seria de esperar que o movimento de
fuga fosse progressivamente revertido, propiciando uma retomada dos
investimentos na Bolsa e em títulos
brasileiros. Essa tendência vem sendo também impulsionada pelo quadro internacional, marcado pelas
baixas taxas de juros praticadas na
Europa, nos Estados Unidos e no Japão em contraste com as taxas oferecidas por papéis brasileiros.
Para que tudo isso se transformasse em euforia faltava, porém, uma
surpresa favorável. Ela veio com a reclassificação da Rússia pela agência
Moody's. O país, que decretara moratória em 1998, foi alçado ao "investment grade" -que indica pouquíssimo risco. A sinalização reforçou as apostas em mercados emergentes, entre os quais figura o Brasil.
Não há maior novidade em movimentos como esse. Por mais que
possam ser avaliados positivamente,
devem ser encarados como o que
são: episódios da dinâmica volátil
dos mercados financeiros, que podem ser desfeitos rapidamente. São
inúmeros os exemplos de "bolhas"
causadas por expectativas ou situações artificialmente produzidas e
temporariamente sustentadas nos
vorazes mercados globais.
Se há indicadores positivos a comemorar e se eles permitem que o Brasil
volte a atrair a atenção de investidores financeiros, isso não deve servir
para desviar a atenção do principal,
ou seja, da chamada economia real.
O que tem faltado ao Brasil nos últimos anos é justamente a capacidade
de a economia se expandir de maneira mais expressiva e contínua, produzindo emprego e riqueza.
O verdadeiro desafio, portanto, está ainda por ser enfrentado: a criação
das condições para uma trajetória de
crescimento sustentado, com recuperação do investimento, eliminação
de gargalos de infra-estrutura e abertura de postos de trabalho. É esse o
tipo de "euforia" que os brasileiros
estão esperando.
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