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MARCELO BERABA
Críticas e reformas
RIO DE JANEIRO - Exagerada a reação do presidente do STF, ministro
Maurício Corrêa, à sugestão da relatora da ONU Asma Jahangir para
que a organização também observe e
analise o Judiciário brasileiro.
Ao fazer no domingo, no Rio, um
primeiro balanço de sua visita de três
semanas ao Brasil, ela apontou várias causas para a violência desmedida que encontrou e fez sugestões que,
acha, podem ajudar o governo a mudar esse quadro.
Jahangir resumiu seu diagnóstico
em uma frase: há, no Brasil, "um sistema que existe para proteger algumas pessoas e perseguir outras". Se
estamos de acordo com a premissa, e
acho difícil que alguém não esteja, temos de reconhecer que esse sistema
não identificado é formado pelos três
Poderes e por suas instituições mais
visíveis, como a polícia.
E é impossível deixar de fora o Judiciário quando se pensa em perpetuação das injustiças.
O argumento da soberania nacional para rejeitar a idéia de uma inspeção é despropositado. Não estamos
falando na ingerência de um país ou
em julgamento internacional. Trata-se de uma relatoria legitimada pelas
Nações Unidas. Ao rejeitar o relatório dos EUA sobre direitos humanos,
o governo brasileiro mostrou bem a
diferença entre uma ação construtiva, como a da ONU, e uma interferência unilateral.
O relatório da ONU sobre os problemas encontrados provavelmente não
trará novidades. Tem o mérito, no
entanto, de não permitir que nos conformemos com a situação e nos obriga a tentar alterá-la.
De uma forma ou de outra, todas as
instituições têm se rendido à necessidade de aceitar críticas e reformas. As
cúpulas do Judiciário, no entanto,
continuam refratárias, apesar da disposição de grande parte dos magistrados e das associações formadas
nos últimas anos de repensar o funcionamento e a aplicação da justiça.
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