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São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A igreja e as missões do século 21

DANIEL LAGNI

À luz do lema "Igreja no Brasil, tua vocação é missão", as comunidades cristãs de todo o país participam das celebrações missionárias deste mês de outubro; em particular do Dia Mundial das Missões, 19/10, que é celebrado no país desde 1972. Outubro é consagrado às missões; tempo de gestos concretos em favor de nossos irmãos próximos ou distantes, com coleta de fundos destinados a obras sociais e programas de envio de missionários às regiões mais pobres e distantes do Brasil e aos cinco continentes.
Em um país onde reina uma das maiores desigualdades sociais do mundo, onde a distribuição de renda inexiste e milhões de pessoas vivem em condições precárias, o trabalho das missões e das obras sociais da igreja é fundamental para ajudar as pessoas mais necessitadas e carentes e, principalmente, para elevar o espírito cristão e a auto-estima daqueles que estão à margem da sociedade.
A importância das missões se expressa no trabalho das Pontifícias Obras Missionárias (POM), na região amazônica e no além-fronteiras. Para dar uma idéia, hoje a Igreja Católica tem 1811 missionários brasileiros evangelizando fora do Brasil, sobretudo na África, Ásia e América Latina.
Para manter esse trabalho é feita coleta de recursos no mês de outubro. A coleta do Dia Mundial das Missões, penúltimo domingo do mês de outubro, teve início no dia 14 de abril de 1926, por iniciativa do papa Pio 11. A coleta destina-se à solidariedade universal. É um fundo mundial para o serviço de evangelização e missões da Igreja Católica. Essa ação é realizada anualmente, em todas as comunidades e paróquias do mundo. Cada país, por meio das Pontifícias Obras Missionárias, procura meios e condições para fazer uma boa animação, divulgação e coordenação da campanha missionária.
No Brasil, nos últimos anos, os valores arrecadados têm crescido de forma reduzida, mas gradual. O Dia Mundial das Missões em 2001 coletou R$ 2.295. No ano passado, foram recolhidos R$ 2.785 -o que não é muita coisa, se considerarmos a população do país e o número de pessoas que se declaram católicas. Isso equivale a R$ 0,02 por católico no país (considerando o último senso oficial). O Brasil, dentro das Américas, não é o país que mais colabora economicamente com a campanha missionária e o Dia Mundial das Missões.



É preciso descobrir a vida como missão, para transformar a vida em missão e para dar a vida à missão

Em primeiro lugar vêm os Estados Unidos, seguidos do Canadá. Na Europa, temos como maiores colaboradores, em ordem decrescente: Espanha, Itália, Alemanha, França, Inglaterra, Irlanda, Bélgica, Áustria etc. Na Oceania, está em primeiro lugar a Austrália. Na Ásia temos, sempre em ordem decrescente: Coréia do Sul, Índia, Filipinas, Japão, Hong Kong, Singapura, Iêmen, Taiwan etc. Na África, há Burkina Fasso e Niger, Camarões, Egito, Nigéria, Quênia, etc.
Na América Latina, em ordem decrescente, estão México, Brasil, Colômbia, Antilhas, Peru, Porto Rico e Costa Rica.
Coincidentemente, neste ano a igreja também comemora o jubileu de prata (25 anos) do pontificado de João Paulo 2º e celebra da beatificação da Madre Tereza de Calcutá, que acontecerá no dia 19 de outubro, em Roma.
O Brasil, como maior país católico do mundo, dará, com certeza, sua contribuição ao Dia Mundial das Missões e celebrará nas suas mais de 8.000 paróquias os 25 anos de pontificado de João Paulo 2º (Estamos divulgando todas as informações dos eventos no site catoli canet.com.br, o maior portal católico do mundo).
"Igreja no Brasil, tua vocação é missão": nosso ser e nosso agir missionários deverão abrir o olhar dos batizados para o mundo todo. Nossa vocação missionária é um chamado para o seguimento de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, todo seguidor de Jesus é chamado para ser enviado. Como discípulos e discípulas de Jesus, somos chamados à missão. Chamada e envio, seguimento e anúncio do reino, diálogo e serviço, testemunho, martírio e missão constituem o eixo fundamental da vocação cristã.
Uma reflexão de cunho missionário, a partir de uma ótica vocacional, convida todos a, com coragem e ousadia, refletirem sobre nosso batismo. A missão interpela as consciências, propõe novos caminhos e projetos de vida, fazendo do Evangelho a razão de ser da própria vida. É preciso descobrir a vida como missão, para transformar a vida em missão e para dar a vida à missão.
No Brasil, estamos dando um enfoque eclesial e comunitário à missão, àqueles convocados a sair de nossa terra para se aproximarem dos outros e anunciarem o Evangelho.
Vamos abrir o olhar para o mundo, alargar nossos horizontes; pois abrir o olhar é sempre abrir o coração.

Padre Daniel Lagni, 50, membro do Conselho para Congregação dos Povos do Vaticano, é diretor nacional das Pontifícias Obras Missionárias.


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