São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Civilidade a ser respeitada

Vi na televisão que o candidato José Serra visitou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, desembargador Álvaro Lazzarini, para prometer a mais absoluta limpeza nas ruas de São Paulo durante a disputa do segundo turno das eleições municipais. Declarou que as ruas, avenidas, prédios, tapumes, árvores e jardins ficarão inteiramente livres de cartazes, cartazetes, pichações ou qualquer outro tipo de poluição eleitoral.
Gostei da atitude. Espero que seja seguida pela candidata Marta Suplicy e que ambos imitem o que foi a eleição do primeiro turno no Rio de Janeiro. Ali os partidos fizeram um civilizado pacto de limpeza. Nenhum material de propaganda foi afixado nos locais públicos, mesmo os permitidos por lei. A cidade ficou limpa durante toda a campanha. Foi um excelente exemplo para todos os políticos do país.
Em São Paulo, deu-se o contrário. Apesar de a legislação restringir a veiculação de propaganda eleitoral nos bens públicos, árvores, jardins, postes, viadutos, passarelas, pontes etc., os políticos pintaram e bordaram e acabaram emporcalhando a cidade de norte a sul. Isso reflete uma profunda falta de respeito para com os munícipes e para com a própria cidade.
Além da poluição eleitoral, a sujeira de São Paulo é vergonhosa. Nas minhas andanças pelo país, tenho notado que a nossa capital é uma séria candidata ao "Porcolino do Brasil". As pichações se multiplicam nos prédios públicos e nas propriedades privadas. Não escapa nada. Há pichações até em escolas e hospitais.
Não vejo nenhuma campanha com vistas a desestimular esse péssimo hábito e tampouco a aplicação de sanções contra os que desrespeitam a tudo e a todos, dando um mau exemplo à juventude, que, aos poucos, vai sendo forçada a conviver no meio da sujeira e do lixo. Ao contrário. As autoridades têm feito vistas grossas aos que emporcalham a cidade em lugar de educá-los continuamente e de puni-los esporadicamente.
Por isso, foi com alegria que vi a atitude de Serra ao propor uma campanha limpa. Oxalá essa decisão unilateral se transforme em bilateral e, mais do que isso, se torne uma norma permanente para todas as campanhas eleitorais no Brasil. Afinal, para os candidatos exercerem o seu poder de convencimento e de persuasão existem, modernamente, o rádio, a televisão, a internet, os telegramas fonados e outros meios, estando disponíveis ainda os velhos métodos de contato direto das caminhadas, passeatas e visitas aos eleitores. Os comícios também são justificáveis desde que, é claro, sejam seguidos de uma boa limpeza após sua realização.
Limpeza é sinônimo de educação. Aproveitemos essa promessa para transformar o chiqueiro em que se encontram vários pontos da cidade de São Paulo em locais asseados e agradáveis para quem passa e usa os logradouros municipais. Isso também faz parte da tão pregada e decantada cidadania.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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