São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Presidente do PT

RIO DE JANEIRO - Mais do que um lugar-comum ou rompante de boa vontade. Todo presidente da República, ao ser eleito e empossado, declara com o máximo de sinceridade que será o presidente de todos os brasileiros. É uma redundância porque, pelo menos em teoria, ele será presidente de todos os brasileiros, independentemente de partidos, religiões, raça etc. etc.
Na prática, o que vemos é o atual presidente da República, após a eleição de domingo, esquecer o resto do Brasil e presidir, como qualquer marqueteiro, a campanha da possível reeleição de Marta Suplicy para o segundo turno.
Foi ao absurdo. Reuniu em palácio os prefeitos do PT que ganharam no primeiro turno e pediu que eles o ajudassem a reeleger a prefeita paulista. E mais: tendo a capital de São Paulo um grande número de nordestinos, Lula apelou para a imaginação dos prefeitos para que encontrassem uma fórmula de fazer esse grande contingente de eleitores sufragar o nome de sua candidata.
Chegou a detalhes técnicos, ao trivial variado da campanha. Nada de Zeca Pagodinho, aconselhou bandas de forró para mexer e deslumbrar a alma nordestina do eleitorado que poderá decidir a eleição.
Até aí, tudo bem. Mas, além do Zeca Pagodinho e do forró, o presidente da República pode esquentar ainda mais a sucessão da Prefeitura de São Paulo com a sua caneta miraculosa, liberando verbas e barganhando cargos que beneficiarão o PT e aquilo que ele chama de "base aliada".
Acontece que o partido tem um presidente, tem diversos quadros, senadores, deputados federais e estaduais. Contratou profissionais do mercado para a tarefa de manter Marta na prefeitura, fazendo o PT marcar ponto para a sucessão presidencial.
Ao reunir prefeitos vitoriosos e pedir que eles dêem a mãozinha necessária para vencer o PSDB, Lula deixa de ser presidente de todos os brasileiros e atua como presidente de alguns brasileiros.


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