São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2005

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O NOBEL DA PAZ

Foi merecido o Prêmio Nobel da Paz concedido à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a seu chefe, Mohamed El Baradei, por seus esforços para conter a proliferação de armas nucleares. Embora o comitê norueguês encarregado de distribuir o laurel negue, a escolha encerra uma crítica ao presidente dos EUA, George W. Bush, e às suas políticas unilateralistas, a exemplo da premiação de 2002, em que o galardoado foi o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter.
El Baradei entrou por diversas vezes em rota de colisão com a Casa Branca. Em 2003, às vésperas da Guerra do Iraque, o diplomata egípcio criticou os supostos dados apresentados pela inteligência americana. Tinha razão. Veio a invasão e a subseqüente confirmação de que Saddam Hussein abandonara seus projetos nucleares anos antes da intervenção.
Mais recentemente, El Baradei foi acusado pelos EUA de não ser duro o bastante em relação ao programa nuclear iraniano. Washington tentou por vários meios impedir sua reeleição para a chefia da AIEA, mas, como não conseguiu reunir aliados em número suficiente, acabou desistindo da manobra.
A premiação de El Baradei e da agência são oportunas, mas isso não significa que o sistema de prevenção nuclear esteja bem e dispense reformas. Países como o Irã e a Coréia do Norte causam preocupação. Deve-se evitar que desenvolvam armamento nuclear. Mas, para fazê-lo de maneira justa, é necessário rever o Tratado de Não-Proliferação Nuclear para nele incluir, senão um cronograma, pelo menos a idéia de que, no futuro, também as potências nucleares reduzirão seus arsenais e, um dia, deles abrirão mão. Deixar de fazê-lo é projetar para a eternidade uma situação de desequilíbrio, em que as cinco potências nucleares ficam autorizadas a possuir artefatos atômicos, e todos os outros países, proibidos. Assimetrias são um dado da realidade, mas não se pode pretender que durem para sempre.

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