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VINICIUS TORRES FREIRE
No país dos aprendizes
SÃO PAULO - Faz dias sai nos jornais paulistas um anúncio em que uma
universidade privada de São Paulo se
autocongratula pela sua qualidade,
evidenciada no sucesso de seus alunos, bicampeões do programa de TV,
dito "reality show", "O Aprendiz".
Poderia ser pior, cumprimentos para
a vencedora do concurso para a nova
morena do "Tchan". Mas a piada
tem graça?
"O Aprendiz" é uma paródia involuntária dos disputadíssimos e alucinados programas de "trainees". Em
muitas empresas, os jovens, após
anos de vestibular e MBA, ainda devem demonstrar servilismo diante da
moda "corporativa", comer cobras
na selva e se passarem por atores canastrões em "dinâmicas de grupo".
O ápice do "reality show" é o momento em que o empresário "big
boss" enuncia com circunspecção
kitsch a frase "você está demitido".
Trata-se de coisa séria. O sobrevivente ganha um raro emprego e, melhor,
a chance de se tornar celebridade instantânea. É como ganhar na megasena dos deserdados da sorte, da cultura ou dos escrúpulos do bom gosto.
Programas desse tipo são sucesso
no mundo todo. Mesmo em países de
meritocracia organizada, há muitos
deserdados do sucesso, da inteligência e de capital social suficientes para
subir na vida, público desses shows de
realidade. No Brasil, trata-se quase
da população inteira. Mas, num país
tão precário e analfabeto, em vez de
atingir mais gente do povo, o salve-se
quem puder dos "realities" pega a
classe média alta também.
O anúncio da universidade lembra
um outro, "um sítio no melhor estilo
"Caras'", que apareceu em jornais faz
uns anos. A ostentação caricata, assunto da revista, tornava-se um padrão estético que teria até realizações
supremas. Mas o sucesso desalmado,
a ignorância espessa e o arrivismo se
difundem sem parar, é um clichê.
Interessante é considerar o nosso
padrão formativo de vulgaridade, este país que pulou do analfabetismo
para a era da TV sem passar pela era
morta da formação e das letras. O
presidente mesmo se felicita como
exemplo de "determinação", de "como chegar lá" (o sucesso vazio), diante de platéias juvenis. Num país em
que a elite se limita a ser "Caras", o
presidente é o maior aprendiz.
vinit@uol.com.br
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