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CLÓVIS ROSSI
A assombração
SÃO PAULO - É complicada a vida
de um governante que, chamado
reiteradamente de mentiroso por
seu principal oponente do momento, não consegue demonstrar, em
momento nenhum, que quem mente é o acusador.
Aconteceu domingo com Luiz
Inácio Lula da Silva ante um Geraldo Alckmin subitamente transformado de "picolé de chuchu" em atirador de facas.
O debate da Band serviu para demonstrar, uma vez mais, que, apertado, Lula entrega os companheiros
sem a menor cerimônia para tentar
livrar-se do fantasma que persegue
o seu governo e o seu partido. Já havia ocorrido em entrevistas a William Bonner/Fátima Bernardes e,
antes, a Pedro Bial, todos da Globo.
O presidente entrega seus auxiliares e seus amigos para poder refugiar-se no cantochão de que não
pode saber de tudo o que acontece
nos cantos de seu governo, em especial, os cantos escuros, que não
são poucos.
Mesmo que seja verdadeiro, o argumento tem, por baixo, por baixo,
dois graves inconvenientes:
1 - Dá a Alckmin um habeas corpus preventivo. Se Lula não sabe do
que se passa em seu próprio governo, como Alckmin poderia saber,
ainda mais quando a suspeita recai
sobre governo alheio (no caso o de
Fernando Henrique Cardoso)?
2 - Permite a dúvida que foi explicitada na pergunta do jornalista
Franklin Martins. Se Lula não sabe
das coisas, quem pode garantir que,
no futuro, não se repitam os crimes
cometidos (e confessados) às costas
do presidente? Pior: quem pode garantir que neste exato minuto algum "aloprado", como diz Lula, não
esteja tramando algum novo trambique em alguma sala do próprio
Palácio do Planalto?
Significa dizer que a assombração
continuará pairando sobre um
eventual segundo governo Lula,
mesmo que não seja suficiente para
impedir agora a sua vitória.
crossi@uol.com.br
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