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Decodificando Lula: basta inverter o sinal
AUGUSTO DE FRANCO
A "revolução pela corrupção" colocou Lula e o PT fora do campo da lei. Embora ainda tenham popularidade, não têm mais legitimidade
DAQUI PARA a frente é o vale-tudo? Não tem mais lei, não
tem mais costume republicano, não tem mais nada? Sim, porque
os ministros de Lula se transformaram em cabos eleitorais e usam vergonhosamente o governo para fazer
campanha declarada e para atacar a
oposição.
Enquanto isso, o presidente-candidato vai tentando nos iludir com seu
ardil preferido: declarar exatamente
o contrário do que está fazendo.
Se ele diz que não atacará o adversário, é sinal de que atacará. Se ele diz
que quer apurar o crime do falso dossiê, é sinal de que colocará todos os
obstáculos para que se chegue a desvendar a origem do dinheiro e da trama na qual estão envolvidos seus homens. Se ele diz que punirá rigorosamente os culpados (por quaisquer dos
seguidos escândalos que seu governo
patrocinou), é sinal de que já arrumou
um jeito de não punir ninguém.
Tudo o que ele diz, vale, sim, porém
com o sinal trocado. Para decodificar
Lula, é simples: basta inverter o sinal.
O jornalismo ainda não descobriu o
código. E a oposição acha que pode
conversar e fazer acordos procedimentais com o PT. Mas isso é impossível, pois o interlocutor, no caso, não
merece confiança. A estratégia da "revolução pela corrupção" colocou Lula
e o PT fora do campo da lei. Conquanto ainda tenham popularidade, não
têm mais legitimidade.
As declarações de Garcia às vésperas do primeiro turno -alegando que
o golpe mais grave no processo eleitoral foi o vazamento das fotos da dinheirama ilegal do PT (para esconder
o verdadeiro golpe do falso dossiê e
desviar a atenção sobre a origem dos
recursos e sobre o crime)- são uma
prova de que esses caras não conhecem limites. Vale tudo para permanecer no poder: distorcer, mentir, urdir
versões fantasiosas...
Os recentes pronunciamentos do
ministro Genro, no sentido de que
Lula quer o debate ético, já que, ao
contrário da oposição, concordou
com as CPIs e puniu todos os seus decaídos, ultrapassam a simples desfaçatez.
Todos sabem que Lula e o PT
moveram mundos e fundos para impedir a instalação da CPMI dos Correios, sabotaram e bombardearam a
CPI do Mensalão até o fim e só admitiram as comissões quando não havia
mais condições políticas de evitá-las.
Entendam que, aqui, já não estamos mais no terreno da democracia
nem sequer no da política. O caso é de
polícia, mesmo. Para desconstituir
essa ameaça, devemos, entretanto,
aprender as lições do processo político em curso.
A primeira lição: não há congruência entre resultado eleitoral e justiça.
Ou seja, as urnas não podem distribuir justiça, não podem sancionar o
mau comportamento, não podem zelar pela ética na política. Dos 11 mensaleiros que concorreram, oito foram
reeleitos. Para não falar do PT, partido do Waldomiro, de Santo André, do
mensalão, da violação do sigilo de
Francenildo, das tentativas de controlar a TV e a imprensa, dos sanguessugas, das cartilhas pagas com dinheiro público (que foram parar em uma
certa organização privada) e do falso
dossiê: mesmo assim, elegeu quatro
governadores, disputa em mais dois
Estados e ainda fez a segunda bancada na Câmara dos Deputados.
No dia em que deixarmos que se legitime a falsa teoria de que as urnas
são capazes de absolver ou punir, então será o fim da possibilidade de democracia e de Estado de Direito.
A segunda lição que se deve reter é a
de que uma força política não se desmancha por si mesma. Se estiver no
poder, não se suicida. Se for uma quadrilha, não se desarticula na ausência
de uma força que a desbarate.
A terceira é a de que Lula é o PT:
não há nenhuma diferença entre essas duas "entidades".
Repetir que o PT atrapalhou Lula,
que a armação do falso dossiê foi feita
contra ele, é fazer o seu jogo. Aliás, a
denominação jocosa de "Operação
Tabajara" foi urdida, como despiste,
no alto comando do Planalto e "comprada" acriticamente por muita gente
que ainda se julga perspicaz...
Ora, ora: Lula é o chefe. Chefe de
quem? É claro que só há uma resposta: chefe do PT, inclusive da parte
mais secreta (até para a maioria dos
petistas), que tem uma estratégia definida de perpetuação no poder a
qualquer preço. Se ele, como sempre,
de nada sabia antes, depois não teria
nenhuma dificuldade de saber.
Vamos ver se a oposição aprende
essas lições e não cai mais uma vez na
conversa, aceitando ir para o segundo
turno sem cobrar diariamente o esclarecimento sobre a origem dos recursos e sobre o envolvimento dos
homens do "entourage" pessoal de
Lula no golpe do falso dossiê.
AUGUSTO DE FRANCO, 56, é analista político do blog
www.democracia.org.br e autor, entre outros livros, de
"A Revolução do Local: Globalização, Glocalização, Localização". Foi membro do comitê-executivo do Conselho da
Comunidade Solidária durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
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