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Outros ventos
Sustentação de Renan Calheiros, que parecia assegurada após a absolvição em plenário, volta a ser ameaçada
CRIARAM um monstro. É o
que se pode dizer dos senadores que absolveram
o presidente do Congresso, Renan Calheiros, da acusação de quebra de decoro parlamentar no último dia 12.
Na época, o resultado da votação deu mostras de que fortaleceria o político alagoano. Previu-se um desfecho rápido e favorável ao senador para as três acusações restantes. Calheiros se portava como o senhor da situação, e
seus aliados passaram a defender que cada um dos processos
fosse julgado em separado -e
não aglutinados numa única peça. A idéia era carimbar quatro
vezes o termo "inocente" na biografia do presidente da Casa.
Algo, entretanto, saiu errado.
Oposicionistas já começam a refazer suas contas com esperanças de obter um placar pró-cassação quando a próxima acusação contra Calheiros chegar ao
plenário. Seria precipitado imaginar que ele esteja com seus dias
contados, mas o clima no Senado
está mudando com rapidez.
Os últimos movimentos do
peemedebista de Alagoas sugerem um homem atormentado,
que não mede conseqüências na
tentativa de influir sobre os rumos dos processos dos quais é alvo nem hesita em maquinar pequenas vinganças. Num lance insólito, os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS) foram excluídos da Comissão de Constituição
e Justiça. Embora regimental,
essa é uma atitude temerária,
pois fere os brios corporativos
dos senadores.
Como se não bastasse, surgiram novas acusações contra Renan Calheiros, e foi aberta uma
quinta representação, desta feita
por abuso da prerrogativa de
presidente. Ele teria tentado interferir nos processos que tramitam no Conselho de Ética recorrendo à montagem de dossiês
contra todos os senadores e à espionagem contra Demóstenes
Torres (DEM-GO) e Marconi
Perillo (PSDB-GO). O presidente
do Senado nega as acusações.
Há muito que Renan Calheiros
perdeu todas as condições políticas de presidir o Senado. O fato
de o coro dos que pedem o seu
afastamento ou sua cassação ter
engrossado agora não deixa de
ser intrigante. Por mais fortes
que sejam as quatro acusações
restantes contra o peemedebista, nenhuma parece tão contundente quanto a rejeitada pelo
plenário em 12 de setembro.
Há senadores do PT, criticados
por suas bases eleitorais, em busca de reparação pelo comportamento rasteiro naquela votação.
Há também petistas a urdir uma
manobra que ponha um representante do partido na cadeira
de Renan Calheiros sem eleição.
Tudo no Senado, até a necessária
resolução do impasse que bloqueia os trabalhos na Casa, parece que tem o seu lado sórdido.
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