São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

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Outros ventos

Sustentação de Renan Calheiros, que parecia assegurada após a absolvição em plenário, volta a ser ameaçada

CRIARAM um monstro. É o que se pode dizer dos senadores que absolveram o presidente do Congresso, Renan Calheiros, da acusação de quebra de decoro parlamentar no último dia 12.
Na época, o resultado da votação deu mostras de que fortaleceria o político alagoano. Previu-se um desfecho rápido e favorável ao senador para as três acusações restantes. Calheiros se portava como o senhor da situação, e seus aliados passaram a defender que cada um dos processos fosse julgado em separado -e não aglutinados numa única peça. A idéia era carimbar quatro vezes o termo "inocente" na biografia do presidente da Casa.
Algo, entretanto, saiu errado. Oposicionistas já começam a refazer suas contas com esperanças de obter um placar pró-cassação quando a próxima acusação contra Calheiros chegar ao plenário. Seria precipitado imaginar que ele esteja com seus dias contados, mas o clima no Senado está mudando com rapidez.
Os últimos movimentos do peemedebista de Alagoas sugerem um homem atormentado, que não mede conseqüências na tentativa de influir sobre os rumos dos processos dos quais é alvo nem hesita em maquinar pequenas vinganças. Num lance insólito, os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS) foram excluídos da Comissão de Constituição e Justiça. Embora regimental, essa é uma atitude temerária, pois fere os brios corporativos dos senadores.
Como se não bastasse, surgiram novas acusações contra Renan Calheiros, e foi aberta uma quinta representação, desta feita por abuso da prerrogativa de presidente. Ele teria tentado interferir nos processos que tramitam no Conselho de Ética recorrendo à montagem de dossiês contra todos os senadores e à espionagem contra Demóstenes Torres (DEM-GO) e Marconi Perillo (PSDB-GO). O presidente do Senado nega as acusações.
Há muito que Renan Calheiros perdeu todas as condições políticas de presidir o Senado. O fato de o coro dos que pedem o seu afastamento ou sua cassação ter engrossado agora não deixa de ser intrigante. Por mais fortes que sejam as quatro acusações restantes contra o peemedebista, nenhuma parece tão contundente quanto a rejeitada pelo plenário em 12 de setembro.
Há senadores do PT, criticados por suas bases eleitorais, em busca de reparação pelo comportamento rasteiro naquela votação. Há também petistas a urdir uma manobra que ponha um representante do partido na cadeira de Renan Calheiros sem eleição. Tudo no Senado, até a necessária resolução do impasse que bloqueia os trabalhos na Casa, parece que tem o seu lado sórdido.


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