São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANTONIO DELFIM NETTO

Uma semana tranqüilizadora

O MÍNIMO que se pode dizer da última semana é que ela foi tranqüilizadora. O desempenho da ministra Dilma Rousseff na sabatina da Folha mostrou que há mais esforço administrativo e menos ênfase ideológica no governo Lula do que sugerem seus críticos ideológicos. Com uma saborosa desenvoltura declarou-se "socialista".
Mas que socialismo? Não o do "século 21", que terminará bem pior que o do século 20, e muito menos o da luta armada para impor "democraticamente" a liberdade como pensava aos 19 anos. Segundo se viu, "socialismo" é o codinome da construção de uma sociedade constitucionalmente forte, com poder incumbente regularmente eleito por partidos competitivos e onde prevaleça uma certa justiça, uma relativa igualdade de oportunidade, onde a liberdade individual seja efetiva, onde as desigualdades de renda não sejam chocantes e o sistema produtivo seja a economia de mercado submetida a um regime competitivo. Em poucas palavras, "um capitalismo moralmente aceitável".
Outro fato tranqüilizador foi o visível avanço no setor da infra-estrutura. Finalmente desencantaram-se os "leilões" dos sete trechos de rodovias do Sul e Sudeste, que somam 2.600 quilômetros e que aguardavam solução desde 1996. Mais de uma vez criticamos neste mesmo espaço as dificuldades que tinha o governo para decidir. Pois bem, os projetos dos leilões surpreenderam: parecem muito adequados, e as condições de garantia da execução das obras são eficazes. Ao que tudo indica, haverá uma feroz competição que beneficiará os consumidores, inclusive com uma rápida antecipação da melhoria dos serviços antes da cobrança dos pedágios, o que reduzirá a resistência a eles. Abre-se, agora, a possibilidade de que o governo coloque, por concessão simples ou por PPP, outros 15 mil quilômetros de rodovias, o que as recuperaria em menos de três anos, como tem insistido o senhor Paulo Godoy, presidente da Abdib.
Na mesma semana, a Vale do Rio Doce arrematou 720 quilômetros da ferrovia Norte-Sul, e os investimentos sugeridos no PAC... começam a mover-se com maior rapidez, o que é fundamental para aumentar a eficiência da economia. Um fantasma, entretanto, ainda inquieta o investidor privado: a ausência de uma demonstração convincente do teorema de que não faltará energia a preços razoáveis (ainda que a custo marginal crescente), mesmo com um crescimento do PIB de 5% ao ano nos próximos dez ou 15 anos. Para isso seria bom se fossem acelerados, também, os leilões das hidrelétricas do Madeira. contatodelfimnetto uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: O vizinho do lado
Próximo Texto: Frases

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.