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RUY CASTRO
O vizinho do lado
RIO DE JANEIRO - Um dos segredos do sucesso da "Playboy",
quando Hugh Hefner a lançou, nos
Estados Unidos, em 1953, era a
idéia de que a moça do pôster fosse
"the girl next door" -a garota da
porta ao lado, supondo que o leitor
tivesse vários vizinhos por andar,
ou a vizinha do lado.
Foi um achado. Nas revistas masculinas de até então, essa moça era
uma prostituta, vedete, lutadora de
catch, dançarina de strip-tease ou
corista de hula-hula -sempre muito maquiada, para disfarçar as
olheiras de insônia ou de pancada, e
posando com roupas e acessórios
óbvios: suéteres, baby-dolls, revólveres, chicotes, espigas de milho
etc. Enfim, uma profissional, que
deixava pouco à fantasia.
Hefner apostou na fantasia e venceu. Sua garota do pôster devia parecer uma garota mesmo, não uma
mulher feita e agressiva, uma vamp
fatal e predadora. Ao contrário, ao
sorrir para a câmera, ela oferecia
sua nudez com um frescor e naturalidade de quem de fato morava na
porta ao lado e o leitor não se envergonharia de, um dia, pedi-la em casamento. Era tão "família" quanto,
com todo respeito, a irmã dele.
Mas, de 1968 para cá, a coisa mudou. A "garota da porta ao lado" leu
Simone de Beauvoir, aderiu à revolução sexual, ficou disponível e deixou de ser uma fantasia. Com isso,
as estrelas do cinema, da TV e do escândalo do momento, não importa
que mais maduras, é que passaram
a açular a libido.
A jornalista Mônica Veloso atende aos dois conceitos. Foi o pivô de
um escândalo político e tem alguma
coisa da vizinha do lado. Passa a impressão de que poderíamos encontrá-la no supermercado, na seção
de pêssegos em calda, ou na drogaria comprando fraldas, por sua recente condição de gestante. Mas
deu a sorte, ou o azar -varia conforme o gosto-, de ter como vizinho o Renan Calheiros.
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