São Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUY CASTRO

O vizinho do lado

RIO DE JANEIRO - Um dos segredos do sucesso da "Playboy", quando Hugh Hefner a lançou, nos Estados Unidos, em 1953, era a idéia de que a moça do pôster fosse "the girl next door" -a garota da porta ao lado, supondo que o leitor tivesse vários vizinhos por andar, ou a vizinha do lado.
Foi um achado. Nas revistas masculinas de até então, essa moça era uma prostituta, vedete, lutadora de catch, dançarina de strip-tease ou corista de hula-hula -sempre muito maquiada, para disfarçar as olheiras de insônia ou de pancada, e posando com roupas e acessórios óbvios: suéteres, baby-dolls, revólveres, chicotes, espigas de milho etc. Enfim, uma profissional, que deixava pouco à fantasia.
Hefner apostou na fantasia e venceu. Sua garota do pôster devia parecer uma garota mesmo, não uma mulher feita e agressiva, uma vamp fatal e predadora. Ao contrário, ao sorrir para a câmera, ela oferecia sua nudez com um frescor e naturalidade de quem de fato morava na porta ao lado e o leitor não se envergonharia de, um dia, pedi-la em casamento. Era tão "família" quanto, com todo respeito, a irmã dele.
Mas, de 1968 para cá, a coisa mudou. A "garota da porta ao lado" leu Simone de Beauvoir, aderiu à revolução sexual, ficou disponível e deixou de ser uma fantasia. Com isso, as estrelas do cinema, da TV e do escândalo do momento, não importa que mais maduras, é que passaram a açular a libido.
A jornalista Mônica Veloso atende aos dois conceitos. Foi o pivô de um escândalo político e tem alguma coisa da vizinha do lado. Passa a impressão de que poderíamos encontrá-la no supermercado, na seção de pêssegos em calda, ou na drogaria comprando fraldas, por sua recente condição de gestante. Mas deu a sorte, ou o azar -varia conforme o gosto-, de ter como vizinho o Renan Calheiros.


Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: O prêmio jabuti
Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Uma semana tranqüilizadora
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.