|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
Brincando com fogo
BRASÍLIA - Mesmo quem tentava
defender o presidente do Equador,
Rafael Correa, agora concorda: ele
ultrapassou todos os limites e está
brincando com fogo. Com a retração do crédito mundial, quem vai
investir no Equador e na Bolívia?
Os EUA, que estão feito barata tonta? A Alemanha, a França ou o Reino Unido, que mal sabem o que fazer com eles próprios? Ou a Islândia, que fechou Bolsas e bancos?
Se há um país com alguma capacidade ainda de investir nos vizinhos, por ser mais rico, por estratégica ou até por uma questão ideológica, esse país é o Brasil. Pelo menos
por enquanto... Correa, pois, comete o maior erro que pessoas, partidos e países podem cometer: escolher o inimigo errado. Ele tanto tensionou que Lula ontem parou de dizer que era tudo "problema de política interna" e partiu para a briga.
Numa briga Brasil-Equador, quem
ganha?
Correa assumiu o compromisso
com Lula, no dia 30/9, em Manaus,
de que recuaria na expulsão da
Odebrecht e permitiria que seus
dois funcionários deixassem o país.
Lula, então, enviaria missão técnica
com o anteprojeto dos sonhos de
Correa, unindo Manaus à equatoriana Manta. Mas Correa rompeu o
compromisso e, em vez de recuar,
avançou na expulsão da Odebrecht
e nas ameaças contra a Petrobras e
contra o BNDES. Lula enfim deixou
de ser bonzinho e deu o troco: fim
da reunião, adiamento sine die do
Manta-Manaus.
Quando Evo Morales decidiu
abrir a temporada de enfrentamento ao Brasil, ele tinha lá seus trunfos: Lula não queria caso com país
pobre e com presidente indígena,
vindo da esquerda. E, "last but not
least", o Brasil efetivamente precisava do gás boliviano.
Correa não notou a diferença. O
Brasil, a Odebrecht e a Petrobras
não morrem sem um projeto a mais
ou a menos. Mas, sem a boa vontade, as empresas e as verbas brasileiras, o Equador fica a ver navios. E
pode afundar nesta hora de crise.
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: Madri - Clóvis Rossi: Os incorrigíveis Próximo Texto: Rio de Janeiro - Sérgio Costa: Um prato bem frio Índice
|