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CARLOS HEITOR CONY
Un pò di chiesa
RIO DE JANEIRO - Alguns leitores
reclamaram da crônica anterior
("Debate do segundo turno"), publicada na última quinta-feira. Uns
não compreenderam, outros acharam falta de respeito para com os
dois candidatos e para com Deus
Todo-Poderoso. E todos a julgaram
inoportuna.
Bem, acontece que não entendo
de política, não entendo nada de
nada. Mesmo assim acompanhei as
análises dos especialistas na matéria e verifiquei que as únicas surpresas foram a votação de Marina e
a queda de Dilma, que deveria ter
ganhado no primeiro turno.
As equipes técnicas que trabalharam para os candidatos chegaram à conclusão de que a fé, a questão do aborto principalmente, foi
decisiva. Recomendaram aquilo
que os italianos chamam de "un pò
di chiesa", um pouco de religião.
Prometer saneamento básico,
educação, saúde, segurança e outros itens materiais é rotina. Uns pelos outros falam as mesmas coisas.
Eleitores há que pedem alguma
transcendência, daí que muitos católicos e a totalidade dos evangélicos emigraram para Marina.
A tônica da campanha ameaça
agora dimensão nova. Os dois candidatos mostrarão na TV as fotos da
primeira comunhão, expressarão a
liberdade religiosa para com todos
os cultos, mas com opção preferencial para com os cristãos, que incluem católicos, protestantes em
geral, inclusive os evangélicos, espíritas etc., a maioria, enfim, do
eleitorado.
Sabe-se que a descriminação do
aborto faz parte do programa inicial
do PT, e acusaram Dilma de ser a favor dessa tese. Ela negou. Como todos os que evitam claramente abordar a questão, ela diz que é a favor
da vida -o que é vago: ninguém é a
favor da morte.
Serra está mais ou menos no
mesmo caso, daí que todos devem
louvar Nosso Senhor Jesus Cristo.
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