São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 2011

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Não sem razão


Protestos contra o sistema financeiro nos Estados Unidos podem abrir novas oportunidades para ações efetivas contra a crise

Como em tantos outros atos de protesto que, da Tunísia ao Chile e da Grécia ao Iêmen, vicejam no mundo contemporâneo, é com velocidade quase mágica que se dissemina o movimento "Ocupe Wall Street", iniciado há três semanas em Nova York.
Sobe a mais de uma centena o número de cidades americanas onde se reproduz a manifestação. O acampamento de protesto contra o sistema financeiro, localizado num parque próximo à sede da Bolsa de Valores de Nova York, desaguou em uma passeata de cerca de 5.000 pessoas na quarta-feira passada.
Sabendo-se o quanto os meios de comunicação eletrônica conferem permeabilidade às palavras de ordem e aos apelos do ativismo, não é irrealista prever novas adesões ao movimento.
Contando com o respaldo de sindicalistas -o que, nos Estados Unidos, é sinal antes de pragmatismo do que de ideologia-, o movimento já não parece limitar-se a um espasmo de ativistas visionários.
Pelo menos é o que se pode deduzir da prudente simpatia com que ninguém menos do que Ben Bernanke, presidente do Banco Central americano, encarou a ação dos manifestantes.
"Eles reprovam, e não sem razão, o setor financeiro pela situação em que nos encontramos e estão descontentes com a resposta das autoridades", reconheceu Bernanke, amigavelmente.
O governo de Barack Obama por certo vê nessa mobilização um fator capaz de contrabalançar as dificuldades que a maioria republicana no Senado tem imposto a seus planos de reativar a economia dos Estados Unidos.
Sem dúvida, os acampados de Wall Street situam-se no polo oposto dos militantes do "Tea Party", recente versão do tradicional conservadorismo americano.
O paradoxo, entretanto, é que tanto os ativistas de direita quanto os de esquerda tiveram num mesmo fenômeno, "bail-out" (o resgate dos bancos pelo governo), o estopim de sua indignação.
Promovendo generosos créditos para instituições financeiras falidas, o governo evitou o colapso do sistema. O desemprego, todavia, não caiu, e não se empreenderam ações equivalentes para solucionar as dívidas dos cidadãos comuns.
Respostas práticas a esse problema -e condições políticas de aprová-las- não são fáceis de vislumbrar, e os manifestantes de Wall Street, como é de supor, estão longe de apresentar uma pauta clara de reivindicações.
A balança política, entretanto -ao contrário das contas do governo- pode reequilibrar-se um pouco. A dúvida é saber se a administração Obama ainda conta com iniciativa para aproveitar-se das oportunidades incipientes que se abrem no momento.


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