São Paulo, segunda, 10 de novembro de 1997.



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ESTADO X CAPITAL GLOBAL

A globalização reduziu o raio de ação dos Estados nacionais. Essa afirmação verdadeira tende a ser confundida com outra, falsa: os governos nada têm a fazer. Deveria ser evidente que a capacidade de ação de cada Estado é um resultado também da estatura dos seus dirigentes, das pressões sociais e da formulação de estratégias de longo prazo.
São fatores políticos e, em certos casos, fortuitos. Mas há anos são discutidas e implementadas políticas ativas em várias áreas. Isso torna a passividade diante da globalização ainda mais pusilânime, se não irresponsável. O FMI, o Banco Mundial, a ONU e o BID têm recomendado políticas mais intensivas de distribuição de renda. Não por motivos humanitários, mas econômicos. Países com renda mais bem distribuída elevam sua poupança e, assim, dependem menos do financiamento externo.
Outra área importante é a das políticas comerciais. Apesar da onda de liberalização global, tanto na Europa quanto nos EUA há setores protegidos, como a agricultura. Em vão tentam os menos desenvolvidos quebrar essa agenda cumprida firmemente pelos Estados dos países mais ricos.
O fomento à educação, à ciência e à tecnologia também é visto pela OCDE como área onde o Estado desempenha funções econômicas de incentivo ou indicativas fundamentais.
Finalmente, o tratamento dado ao capital externo também tem sido alvo de revisões doutrinárias. Aliás, na reunião anual do FMI houve a aceitação oficial de controles pragmáticos, principalmente nas economias em desenvolvimento. O Chile é, nessa área, um caso hoje clássico.
Alguns governantes preferem "surfar" nas ondas da liquidez financeira global a construir ancoradouros próprios para a estabilidade e o desenvolvimento. Atribuem os desastres à "globalização", o que é só uma demonstração seja de pressões insuficientes da sociedade seja, no mínimo, de preguiça de governar.



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