São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

A estrela de Lula

BRASÍLIA - Governo é governo, partido é partido. O PT não pode ser estatizado, e chegou a hora de Lula tirar a estrelinha vermelha da lapela e governar muito além dela.
Como se faz essa mágica do "cada um na sua"? Lula já começa a fazer. Ouve e convive com os interesses de toda a sociedade, não pode privilegiar o seu partido, os seus governadores, os movimentos sociais e os setores corporativos em simbiose com o PT.
Quanto ao partido, tem o direito e o dever de ouvir todas as suas tendências internas, respeitar os "radicais", hoje em minoria, e se preocupar com os dois passos seguintes da luta política: as eleições municipais de 2004 e as gerais de 2006. Serão plebiscitos pró e anti-Lula, com reflexos diretos no PT.
Em 1994, FHC "alavancou" (com perdão da má palavra) a eleição do PSDB nos três principais Estados: São Paulo, Rio e Minas. Lula elegeu uma forte bancada na Câmara, mas não os governos mais importantes. O PSDB ficou com São Paulo e Minas, e o PSB de Garotinho, com o Rio. Não é só isso, mas é como se a sabedoria popular dissesse: "Chegou a hora de testar o Lula, mas é melhor esperar um pouco para entregar o resto ao PT".
O "resto" estará em jogo nas próximas eleições e depende do desempenho do governo Lula. Mas governos passam, partidos ficam. E, assim como governos vão além de partidos, o horizonte do PT vai muito além de um ou dois mandatos de Lula.
A primeira prova na convivência PT-governo Lula será a escolha do presidente da Câmara, que não pode criar problemas para o presidente da República nem transformar o Parlamento num apêndice do Planalto.
Difícil é, mas há precedentes mostrando ser possível. E deve ser perseguido. Com pouca margem de manobra para inovar rapidamente na economia, Lula e seu partido têm de ser reformadores, já, na área social, nos costumes e... na prática política.
É desse conjunto, e não só de improváveis impactos econômicos, que vai depender a decisão do eleitor de complementar 2002 dando também os grandes governos ao PT. Ou não.



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