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Reserva estratégica
É prudente a decisão de postergar licitações de 41 blocos para exploração de petróleo após o campo Tupi ter sido descoberto
AGORA se entende melhor o que pode ter motivado o presidente da
República a perorar,
em pleno debate sobre incertezas no fornecimento de gás natural, que era preciso "acreditar"
que não haveria crise energética.
Naquela altura, Lula já dispunha
da informação que seu governo
divulgaria com fanfarra no dia
seguinte: a descoberta de uma
província gigante de petróleo e
gás -as estimativas vão de 5 bilhões a 8 bilhões de barris- no
campo Tupi. Se esse potencial se
confirmar, como parece provável, as reservas nacionais saltariam de chofre até 56%.
Não é pouca coisa. Mesmo que
incapaz de aliviar a crise atual do
gás e afastar o espectro de um
apagão energético, pois a produção fica para 2014, seria tolo contemplar com descrédito a magnitude do achado. Basta mencionar que o campo, por conter óleo
leve, a princípio permitiria interromper a importação desse tipo
de petróleo, a qual custará US$ 5
bilhões ao país neste ano.
Desaconselha-se o excesso de
euforia, no entanto. A profundidade em que se encontra o óleo
-1.500 m a 3.000 m de água,
mais 3.000 m a 4.000 m de rocha- nada tem de trivial. A Petrobras dispõe de tecnologia para alcançar a camada pré-sal, como é chamado o estrato geológico em que se acha o combustível.
Estima-se que a exploração na
nova fronteira de 4.500 m a
7.000 m custe até três vezes mais
que o usual em águas profundas.
Muita pesquisa será necessária, assim, para tornar competitivo o óleo de acesso difícil. Quando a tecnologia estiver madura,
os preços vigentes no mercado
internacional dirão se o campo
será viável também do ponto de
vista econômico. Na pior hipótese, Tupi poderia ficar inexplorado, como reserva estratégica.
Precisamente por suas dimensões, o novo campo altera todo o
panorama em que se realizam as
licitações da Agência Nacional
do Petróleo (ANP). Demonstrando prudência, o Conselho
Nacional de Política Energética
decidiu, na mesma data da apresentação de Tupi, excluir da nona rodada de licitações da ANP
aqueles 41 blocos em que há superposição com a nova província. Segundo a ministra da Casa
Civil, Dilma Rousseff, que comandou o anúncio, trata-se de
defender "o interesse nacional".
É precipitado concluir que a
medida seja "estatizante". De
uma perspectiva pragmática,
não faz sentido abandonar à discrição empresarial decisões sobre a exploração de um volume
assim estratégico apenas três semanas depois de anunciá-lo. A
descoberta do novo campo muda
o status energético do país e deveria levar, também, a um amplo
debate sobre a modalidade de exploração mais adequada ao interesse nacional.
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