São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Chávez e os estudantes

A 20 dias do referendo no qual Hugo Chávez jogará a cartada decisiva para seu projeto autoritário, o presidente da Venezuela demonstra dificuldades em lidar com uma força opositora emergente: as marchas de dezenas de milhares de estudantes na capital, Caracas, e em outras importantes cidades.
A reação de Chávez é a de sempre. "São as classes ricas que querem manter sua coesão social; são os mesmos que apoiaram o golpe de 2002." Tudo não passaria de uma "nova arremetida fascista" inspirada pelo governo dos EUA. Mas a velha ladainha que atiça o ódio sectário entre ricos e pobres e invoca o fantasma imperialista tem menos chances de prosperar desta feita.
Quem protesta não é a carcomida elite política derrotada por Chávez -nas urnas e na reforma institucional que veio agigantando o poder presidencial. Tampouco é o seu braço midiático, ambos associados à tentativa fracassada de golpe, apoiada por Washington, em abril de 2002.
São estudantes da maior universidade do país -a pública e gratuita UCV (Universidade Central da Venezuela), com um corpo discente (70 mil) comparável ao da USP- que lideram as marchas. Querem adiar o referendo em que Chávez pleiteia a reeleição ilimitada e o poder de decretar estado de exceção por tempo indeterminado, com censura à imprensa.
Protestos assim constituem obstáculos difíceis de contornar até mesmo para regimes truculentos. A repressão contra massas de jovens estudantes tende a produzir estragos na popularidade do caudilho. Apostar no cansaço do movimento também é arriscado e pode redundar, igualmente, em desgaste -ou derrota.
Talvez por isso tenha entrado em ação uma espécie de SA chavista, se é o caso de evocar o fascismo. Grupos de apoio ao presidente despacham pistoleiros montados em motocicletas para espalhar o terror nas manifestações. Pelo menos nove estudantes já foram feridos, três à bala num campus da UCV.
Em vez de condenar o absurdo, Chávez continua incitando ao ódio. Desempenha o papel clássico do líder que empurra uma nação para o desastre.


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