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Chávez e os estudantes
A 20 dias do referendo no
qual Hugo Chávez jogará a
cartada decisiva para seu
projeto autoritário, o presidente
da Venezuela demonstra dificuldades em lidar com uma força
opositora emergente: as marchas de dezenas de milhares de
estudantes na capital, Caracas, e
em outras importantes cidades.
A reação de Chávez é a de sempre. "São as classes ricas que querem manter sua coesão social;
são os mesmos que apoiaram o
golpe de 2002." Tudo não passaria de uma "nova arremetida fascista" inspirada pelo governo dos
EUA. Mas a velha ladainha que
atiça o ódio sectário entre ricos e
pobres e invoca o fantasma imperialista tem menos chances de
prosperar desta feita.
Quem protesta não é a carcomida elite política derrotada por
Chávez -nas urnas e na reforma
institucional que veio agigantando o poder presidencial. Tampouco é o seu braço midiático,
ambos associados à tentativa fracassada de golpe, apoiada por
Washington, em abril de 2002.
São estudantes da maior universidade do país -a pública e
gratuita UCV (Universidade
Central da Venezuela), com um
corpo discente (70 mil) comparável ao da USP- que lideram as
marchas. Querem adiar o referendo em que Chávez pleiteia a
reeleição ilimitada e o poder de
decretar estado de exceção por
tempo indeterminado, com censura à imprensa.
Protestos assim constituem
obstáculos difíceis de contornar
até mesmo para regimes truculentos. A repressão contra massas de jovens estudantes tende a
produzir estragos na popularidade do caudilho. Apostar no cansaço do movimento também é
arriscado e pode redundar, igualmente, em desgaste -ou derrota.
Talvez por isso tenha entrado
em ação uma espécie de SA chavista, se é o caso de evocar o fascismo. Grupos de apoio ao presidente despacham pistoleiros
montados em motocicletas para
espalhar o terror nas manifestações. Pelo menos nove estudantes já foram feridos, três à bala
num campus da UCV.
Em vez de condenar o absurdo,
Chávez continua incitando ao
ódio. Desempenha o papel clássico do líder que empurra uma
nação para o desastre.
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