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FERNANDO DE BARROS E SILVA
País dantesco
SÃO PAULO - Pode-se dizer, sem
exagero, que o advogado de defesa
de Daniel Dantas estava em casa na
última quinta-feira. O cliente de
Nélio Machado saiu da sessão do
STF quase como um mártir do Estado de Direito -prova involuntária de que a linha entre um suposto
Estado Policial e a velha impunidade de sempre é tênue, muito tênue.
O juiz Fausto De Sanctis, em contrapartida, foi achincalhado pela
ampla maioria dos presentes. Mais
do que o placar -9 a 1 a favor de
Dantas-, o próprio julgamento do
mérito da decisão que havia soltado
o banqueiro acabou se convertendo
em espetáculo público e exemplar
de linchamento retórico do juiz.
Cezar Peluso chegou a sugerir
que a conduta do magistrado fosse
submetida ao crivo do Conselho
Nacional de Justiça. De Sanctis foi
posto sob suspeição pela defesa de
Dantas. Quando o caso chegar ao
STF pode-se imaginar o desfecho.
A cena suprema só não foi mais
ostensiva do que a operação da PF
na véspera contra o delegado Protógenes e agentes da Abin. A pretexto
de investigar o vazamento de informações da Satiagraha, a polícia vasculhou casas e apreendeu computadores. Também violou sigilos telefônicos sem ordem judicial, como
revelou este jornal, embora negue.
Onde tudo isso vai parar?
Lá atrás, quando quase todos incensavam o novo Eliot Ness, esta
coluna criticou os atropelos da operação e disse que os abusos da PF
iriam favorecer os investigados. Registrou ainda que o contrabando
ideológico que contaminava aquele
inquérito obtuso servia para justificar barbaridades, como o pedido de
prisão da repórter da Folha.
Protógenes agora experimenta
seus métodos na pele. Mas quem
deve comemorar? As motivações
do cerco ao delegado sugerem algo
pior do que só uma guerra entre
facções na PF. Não há mocinhos
nem heróis nessa história dantesca
e nebulosa. Há, sim, vilões e bandidos que irão se dar bem no final.
É bom por isso acompanhar os
próximos capítulos do enredo com
a trilha sonora de um famoso filme
de Francis Ford Coppola.
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