|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIANE CANTANHÊDE
O crime de ser mulher
BRASÍLIA - Noutro dia, uma mulher de mais de 60 anos foi amordaçada, torturada e violentada por um
criminoso que entrou na sua casa,
em Brasília, fazendo-se passar por
bombeiro eletricista.
É dramático, mas comum. Pior
foi a entrevista da delegada (delegadaaa!) a uma rádio, em que ela nem
sequer fez referência ao crime e ao
criminoso, centrando suas suspeitas (ou seriam certezas?) sobre a
própria vítima: se nunca tinha visto
o homem, como entabulou conversa com ele? Se morava sozinha, como deixou o estranho entrar? E
sentenciou: "Há muita coisa estranha nessa história".
Nada disse sobre o estupro, a violência, a covardia, as escoriações, as
muitas horas que a mulher havia ficado ferida, amarrada e amordaçada. No inconsciente da delegada, a
vítima era a ré. Afinal, uma mulher
madura, sozinha, sabe-se lá!
É o que ocorre na Uniban, quando vândalos recalcados promovem
uma rebelião, perseguem, ameaçam e humilham uma colega indefesa, porque... Por que mesmo? Ah,
sim! Era insinuante. E ela é que acaba expulsa pelo conselho universitário, até o reitor agir. A vítima virou ré. Afinal, uma mulher jovem,
bonita, de saia curta...
São dois casos bastante simbólicos. No de Brasília, não foi um policial bruto e machista que inverteu
as condições de vítima e réu: foi
uma delegada mulher. No da Uniban, quem embolou os personagens
foi o conselho de uma entidade acadêmica, que foi criada e é regiamente paga para cuidar da educação (e
da segurança) dos filhos alheios.
Se a delegada e a cúpula da escola
são os primeiros e mais insensíveis
algozes, para onde correr? A quem
recorrer? O "mal" e o "bem" se embaralham cruelmente, e a vítima
passa a ser cada vez mais vítima
-na condição de ré.
PS - Por falar nisso, no Estado de
Maluf e na capital de Pitta, quem é
condenada e paga a conta é Luiza
Erundina. É de rir ou de chorar?
elianec@uol.com.br
Texto Anterior: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: A mídia "partidarizada" de Dilma Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O pagador do sucesso Índice
|