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CARLOS HEITOR CONY
O pagador do sucesso
RIO DE JANEIRO - São frequentes os atores de cinema que se
transformaram em bons diretores.
Os casos mais notáveis seriam Chaplin e Orson Welles, passando por
Vittorio De Sica, que começou como galã do cinema italiano e terminou como diretor de obras-primas,
como "Ladrões de Bicicletas", "Umberto D" e "Milagre em Milão".
Anselmo Duarte, em nível nacional, lembra sobretudo De Sica.
Quando estreou na direção, com
"Absolutamente Certo", a crítica
reconheceu que o eterno galã das
chanchadas da Atlântida tinha jeito
para a coisa, o filme ficava acima da
produção daquela época. Mas era,
ainda, uma extensão mais ou menos séria dos filmes populares que
então eram feitos no Brasil.
Veio depois o impacto de "O Pagador de Promessas", que, antes
mesmo da Palma de Ouro de Cannes, foi considerado um dos melhores filmes nacionais de todos os
tempos. O prêmio internacional,
paradoxalmente, se não fez mal ao
filme, fez mal a seu diretor. Anselmo passou a ser negado não só pela
crítica mas pelos colegas de ofício,
notadamente o pessoal do cinema
novo, que então começava a despontar.
Tentando desqualificar a Palma
de Ouro, foi dito que o júri daquele
ano dividira-se entre Buñuel e Antonioni, dois cobras assumidos do
cinema internacional. Anselmo teria aproveitado a brecha e, namorando a presidente dos jurados, foi
o tertius que levou a Palma e a sua
alma.
Nunca se recuperou do trauma
em sua própria terra. Funcionando
sempre de olho nos prêmios internacionais, principalmente no de
Cannes, os cineastas e produtores
nativos eram unânimes em negar
não só o filme mas, sobretudo, o diretor. Ensaios e livros são pródigos
em elogiar os filmes do cinema novo, mas colocam uma pedra do silêncio em cima de Anselmo Duarte.
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