São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 2000

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ELIANE CANTANHÊDE
Covas dá as cartas

BRASÍLIA - Mário Covas acaba de resgatar a candidatura presidencial de Tasso Jereissati para o PSDB. Até a semana passada, Tasso parecia mais candidato de ACM. Hoje, é o principal candidato tucano. Ou seja, da aliança PSDB-PFL-PMDB.
Cumpre-se a profecia: se Covas já era a maior força política do PSDB, com a doença passa a estar acima do bem, do mal e de FHC. O que ele diz (ou disser) tem (terá) um efeito beirando o religioso. Quem ele quiser já sai disparado. Quem ele não quiser que ponha as barbas de molho.
É aí que entra José Serra. A manifestação de Covas pró-Tasso equivale a anti-Serra. Enquanto Tasso ficava escondidinho no Ceará e insuflado por ACM, Serra corria solto pelo país e pelos partidos afora e se afirmava como "o" nome em ascensão. Covas abriu a boca e a situação se inverteu.
O PFL soltou fogos. Alguns do PSDB comemoraram. Os do PMDB que já se animavam para os lados de Serra podem dar uma recuada estratégica. Quem não acreditava em Tasso passou a acreditar e amplificar suas qualidades: sujeito afirmativo, político hábil, empresário moderno, crítico da política econômica.
Por mais que Covas e Tasso venham se acertando há meses, o movimento político mais importante do governador paulista na sucessão foi surpreendente. E num momento dramático da vida dele.
Há até quem busque na história um componente quase psicológico: esses tucanos paulistas, FHC, Covas e Serra à frente, têm e sempre tiveram relações de amor muito esquisitas. Se é que são mesmo de amor.
Como registro, a declaração de Covas coincidiu com uma outra de Geraldo Alckmin deixando claro que a vaga de candidato ao governo de São Paulo em 2002 é dele e ninguém tasca. Ou seja: se Covas fecha a porta do Planalto, Alckmin fecha a do Bandeirantes. O que sobra para Serra?
Em política, portas nunca estão totalmente fechadas nem abertas, muito menos dois anos antes. Mas nem sempre é fácil encontrar as chaves.
Hoje, elas estão com Tasso.


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