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CLÓVIS ROSSI
O santo nome em vão
CUSCO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está crescentemente enveredando pela perigosa senda do misticismo e colocando Deus onde Deus
não deve estar.
O mais recente exemplo foi anteontem à noite, no discurso de encerramento da cúpula dos presidentes da
América do Sul. Disse Lula: "Deus
quis que eu pudesse viver e ser presidente da República".
Perdão, presidente, mas me atrevo
a reescrever sua história de vida -e
a seu favor, diga-se. Você não é presidente porque Deus quis, mas pela sua
belíssima história de vida.
Dias atrás, Lula já havia apontado
Deus como responsável por ter o Congresso votado "coisas que pareciam
impossíveis de ser votadas".
Se é Ele quem comanda as votações,
para que precisamos de um presidente e de congressistas? Não sai mais
barato e melhor deixar que Aquele
que tudo pode se incumba de tudo?
Volto à história de vida do presidente. No discurso de Cusco, Lula disse também:
"Se eu tivesse que morrer daqui a
cinco minutos, já teria valido a pena
ter sido presidente do meu país e já
teria valido acreditar na integração
como forma de fortalecer os países da
América do Sul".
Se o presidente já cansou de governar, eu até entenderia. Mas, se morre
feliz quando, só para citar o número
trágico mais recente, o Brasil está
prenhe de 27 milhões de crianças pobres, então Lula perdeu o contato
com a realidade e precisa, sim, da divina piedade.
A rigor, o presidente muito pouco
fez até agora, inclusive na economia,
na qual só é louvado pelo que NÃO
fez (o caos que o terrorismo financeiro dizia que viria com ele).
Se tivesse morrido cinco minutos
depois do discurso, Lula seria incensado, sim, como acontece com toda
personalidade que morre prematuramente, mas pelo seu passado até chegar a Presidência. De lá para cá, é um
livro praticamente em branco -e
Deus não tem rigorosamente nada a
ver com isso.
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