São Paulo, sexta-feira, 10 de dezembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O santo nome em vão

CUSCO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está crescentemente enveredando pela perigosa senda do misticismo e colocando Deus onde Deus não deve estar.
O mais recente exemplo foi anteontem à noite, no discurso de encerramento da cúpula dos presidentes da América do Sul. Disse Lula: "Deus quis que eu pudesse viver e ser presidente da República".
Perdão, presidente, mas me atrevo a reescrever sua história de vida -e a seu favor, diga-se. Você não é presidente porque Deus quis, mas pela sua belíssima história de vida.
Dias atrás, Lula já havia apontado Deus como responsável por ter o Congresso votado "coisas que pareciam impossíveis de ser votadas".
Se é Ele quem comanda as votações, para que precisamos de um presidente e de congressistas? Não sai mais barato e melhor deixar que Aquele que tudo pode se incumba de tudo?
Volto à história de vida do presidente. No discurso de Cusco, Lula disse também:
"Se eu tivesse que morrer daqui a cinco minutos, já teria valido a pena ter sido presidente do meu país e já teria valido acreditar na integração como forma de fortalecer os países da América do Sul".
Se o presidente já cansou de governar, eu até entenderia. Mas, se morre feliz quando, só para citar o número trágico mais recente, o Brasil está prenhe de 27 milhões de crianças pobres, então Lula perdeu o contato com a realidade e precisa, sim, da divina piedade.
A rigor, o presidente muito pouco fez até agora, inclusive na economia, na qual só é louvado pelo que NÃO fez (o caos que o terrorismo financeiro dizia que viria com ele).
Se tivesse morrido cinco minutos depois do discurso, Lula seria incensado, sim, como acontece com toda personalidade que morre prematuramente, mas pelo seu passado até chegar a Presidência. De lá para cá, é um livro praticamente em branco -e Deus não tem rigorosamente nada a ver com isso.


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