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FERNANDO RODRIGUES
Fragilidade institucional
BRASÍLIA - A reunião de hoje do
Comitê de Política Monetária do
Banco Central é um exemplo da fragilidade institucional do país. Lula
enviou recados quase exigindo um
corte na atual taxa básica de juros,
de 13,75% anuais.
Criou-se um impasse. O presidente do BC, Henrique Meirelles,
pode aceitar o ultimato. Reduz o
percentual e submete-se ao Planalto. Nessa hipótese, Lula passa a ditar sozinho todas as normas monetárias até o final de seu mandato.
Mas Meirelles tem a opção de resistir. Aí abre-se uma crise profunda entre Lula e o presidente do Banco Central. Não haveria pior momento para tal desarranjo. O Brasil
e o restante do planeta estão prestes a enfrentar a pior crise financeira em muitas décadas.
O episódio escancara a desídia
com que a política econômica foi tocada nos últimos seis anos. Lula é
um criptoestatista. Escolheu alguém do mercado para o BC para simular uma conversão ao modelo de
livre mercado. Meirelles foi sua terceira ou quarta opção. Ninguém
aceitava à época se arriscar no início da gestão petista.
Em Brasília, quem fala inglês, utiliza talheres corretamente e sabe
escolher um bom vinho é logo classificado de gênio ou intelectual. É o
caso de vários diplomatas do Itamaraty e também o de Meirelles.
Enquanto o mundo se esbaldava
na farra do crédito fácil e do crescimento acelerado, Lula deixou Meirelles tocar uma política ortodoxa
nos juros, evidentemente exagerada. O petista poderia ter mudado
antes, em tempos de calmaria,
criando mecanismos transparentes
de cobrança de responsabilidade
para o BC. Sem saber o que fazer, o
presidente seguiu a máxima atribuída a d. João 6º -não fez nada.
Agora, à beira de um tsunami financeiro mundial, Lula resolve emparedar o Banco Central. É esse o
modelo de solidez econômica do
Brasil para enfrentar a crise.
frodriguesbsb@uol.com.br
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