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CLÓVIS ROSSI
O G8, o cafezinho e o Brasil
SÃO PAULO - Durante a reunião
ministerial do G20 em São Paulo,
faz um mês, o ministro Guido Mantega disse que o Brasil não queria
mais participar do G8 só para "tomar cafezinho". Era uma alusão ao
fato de que nas mais recentes cúpulas do grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia passaram a
participar também o que o jargão
diplomático batizou de "outreach
countries" (em tradução absolutamente livre, a periferia, formada, no
caso, por Brasil, Índia, China, África
do Sul e México).
Acontece que a periferia só é chamada, como diz Mantega, para o cafezinho. Ou seja, entra nos salões da
nobreza no dia seguinte, depois que
o G8 propriamente já almoçou e
jantou toda a agenda e já emitiu o
documento final.
Para o ano que vem, o anfitrião
(Silvio Berlusconi, premiê italiano)
já anunciou um novo formato: continua, no primeiro dia, a reunião só
do G8, mas, no dia seguinte, a periferia entra e fica o dia todo reunida
com os grandes (Berlusconi incluiu
o Egito entre os "outreach countries"). No terceiro dia, entram os
africanos e, acha Berlusconi, forma-se um G20.
É o típico jogo lampedusiano de
mudar tudo para que tudo fique
igual. Quando Mantega se queixa de
que o Brasil não quer só o cafezinho, não está, como é óbvio, se referindo a refeições, mas a jogar o jogo desde o início.
Depois de duas cúpulas do G20
(em novembro, em Washington, e
no próximo abril, em Londres), não
faz sentido o G8 continuar como
um clube exclusivo, até porque a
sua única agenda é a crise global, de
cuja discussão não podem ser excluídos os grandes emergentes.
Aceitar esse formato equivale a
aceitar que o G20 tenha a função de
"legitimar as iniciativas do G8", como aponta Xaiojin Chen, do Instituto de Tecnologia e Economia Internacional da China.
Ou tomar só o cafezinho -e frio,
ainda por cima.
crossi@uol.com.br
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