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Coisas de estarrecer
Dilma se diz indignada com corrupção do DEM, enquanto o PT tenta reescrever a história de seu próprio mensalão
"AS IMAGENS são estarrecedoras.
Muito duras,
muito claras".
São palavras da ministra Dilma
Rousseff a respeito das gravações que flagraram o esquema de
distribuição de propinas patrocinado pelo governo de José Roberto Arruda, do DEM, no Distrito Federal. A candidata petista
à sucessão do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva se disse ainda favorável a leis mais duras e
cobrou agilidade da Justiça
quando há "inequivocamente
provas de corrupção".
Até aqui, seria difícil discordar.
Abundam cenas estarrecedoras
na política nacional, sem que a
sociedade receba da Justiça respostas compatíveis à gravidade e
à extensão dos escândalos que
envolvem o patrimônio público.
Dilma, porém, que chegava a
uma festa com mais de mil convidados organizada para celebrar
os 30 anos do PT, aproveitou a
ocasião para ressalvar que não há
"provas contundentes" contra
petistas que respondem a processo no escândalo do mensalão.
Não é de hoje que o alto comando do PT procura se aproveitar da popularidade de Lula
para tentar reescrever a história,
apagando crimes a seu favor. Retorna, agora, a fábula de que o
mensalão petista, um esquema
nacional de compra de apoio político capitaneado pela cúpula da
legenda, não passou de recolhimento de "recursos não contabilizados" de campanha.
Ninguém com memória e informação cairia nessa esparrela.
Vale recordar o que havia de "estarrecedor" no mensalão petista.
A começar pelo uso indevido do
dinheiro público.
O Banco Popular é só um -e
bom- exemplo. Criado, no Banco do Brasil, para emprestar a
pessoas de baixa renda, durante
um ano e sete meses, sob a gestão
de Ivan Guimarães, conseguiu a
proeza de gastar mais em publicidade (R$ 24 milhões) do que
em empréstimos (R$ 20 milhões). A empresa que se beneficiou da publicidade, sem que se
tenha feito nenhuma licitação,
foi a DNA de Marcos Valério.
Seria o caso de recordar ainda
outros exemplos "de estarrecer"
envolvendo este governo: a procissão de deputados, petistas e
aliados, que se formou na boca
do caixa do Banco Rural para receber quantias várias de mensalão; o jipe que uma empresa beneficiada por contrato milionário da Petrobras deu de presente
a Silvio Pereira, ex-secretário-geral do partido; o dinheiro na
cueca com que foi flagrado um
assessor do irmão de José Genoino, então presidente do PT; a
violação do sigilo do caseiro que
denunciou atividades envolvendo Antonio Palocci -a lista de
escândalos graves é longa.
Poderia ainda incluir o caso
dos "aloprados", quando, na
campanha de 2006, um grupo de
petistas foi flagrado com malas
de dinheiro sujo, numa operação
para atingir a campanha tucana.
Se a vida partidária se nivelou
por baixo e os costumes políticos
estão degradados, o governo Lula, por ação e conivência, é um
dos grandes responsáveis. É bom
ter isso em mente para que não
se realize a profecia de Delúbio
Soares, para quem o mensalão
ainda iria virar "piada de salão".
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